8 de Janeiro: PGR pede soltura de morador de rua preso por um ano sem provas concretas

Um morador de rua está preso preventivamente há mais de um ano após ser acusado, sem evidências consistentes, de ter participado dos atos de vandalismo ocorridos em 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Jeferson Franca da Costa Figueiredo, de 31 anos, foi detido inicialmente em janeiro daquele ano, em frente ao Quartel-General do Exército, após alegar que estava em busca de abrigo e comida, uma vez que foi impedido de ficar em um shopping popular.

De acordo com a Defensoria Pública da União (DPU), Jeferson chegou à capital federal no dia 8 de janeiro, de carona em um caminhão, e não tinha onde dormir. Segundo o portal Metrópoles, em depoimento, ele relatou que foi ao QG do Exército na noite anterior em busca de abrigo. Mesmo sem provas que o ligassem aos atos de depredação dos prédios públicos na Esplanada dos Ministérios, ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crimes de associação criminosa e incitação ao crime.

Embora tenha sido solto em 18 de janeiro, Jeferson voltou a ser preso em dezembro de 2023, após descumprir medidas cautelares impostas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. No entanto, a PGR revisou a acusação e, em 16 de dezembro, pediu a revogação da prisão preventiva, argumentando que não havia provas de envolvimento do acusado nos atos antidemocráticos.

Segundo a PGR, Jeferson está em situação de vulnerabilidade social, sendo morador de rua e beneficiário de assistências sociais. Ele foi identificado como inscrito no Cadastro Único (CadÚnico) e já foi atendido por diversos centros de apoio a pessoas em situação de rua. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o motivo de Jeferson estar no local onde ocorreram os atos foi a busca por alimentação, e não uma participação nos crimes. “Não há elementos que provem que o acusado tenha se aliado aos criminosos para executar os atos”, destacou Gonet.

Em depoimentos, Jeferson explicou que retirou a tornozeleira eletrônica devido à dificuldade de encontrar trabalho e carregar o equipamento. A PGR também enfatizou que não há provas de sua participação nos atos e que sua presença no acampamento onde os protestos ocorreram não configura associação criminosa.

O caso de Jeferson reflete uma preocupação maior com a situação de pessoas em condição de rua que acabam sendo presas em meio a investigações, muitas vezes sem evidências claras de envolvimento em crimes. Até o momento, 310 pessoas foram condenadas pelo STF pelos atos de 8 de janeiro, sendo 229 por participação direta e 81 por incitação. Mais de 500 pessoas fecharam acordos com a PGR, admitindo os crimes em troca de multa e cursos sobre democracia.

Recentemente, o STF absolveu quatro pessoas, incluindo três em situação de rua, que foram presas durante os atos de vandalismo. O caso de Jeferson continua a chamar a atenção para as complexas questões de justiça e direitos humanos no contexto dos eventos de janeiro de 2023.


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