Preso nesta quarta-feira (8) por suspeita de matar quatro familiares envenenados, Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, apresentou mais de três versões diferentes sobre o crime, em depoimento à polícia. Além disso, ele reconheceu nutrir ódio e desprezo pela enteada morta, Francisca Maria da Silva, embora negue que a tenha assassinado.
De acordo com informações do delegado Abimael Silva reveladas ao jornal O Globo, o depoimento durou pouco mais de duas horas e 40 minutos.
– Ele se referia a ela [Francisca] como “uma criatura com mente tola, matuta, morta de preguiça, não serve para nada”. Também manifestava nojo e raiva dela, além de afirmar que era inútil e passava os dias escutando músicas de apologia e músicas de mala. Ele [Francisco] é uma pessoa com uma personalidade muito complexa, fala de forma espontânea, mas demonstra claramente sua aversão pela convivência com Francisca e seus filhos – declarou o delegado.
O suspeito contou ainda que desejava que a enteada saísse de casa e que ela não procurava homens trabalhadores para se relacionar, apenas “vagabundos”. Em determinado momento da conversa com as autoridades, ele comparou os filhos da enteada com “primatas” e os chamou de “pessoas não higiênicas”. Os filhos de Francisca também foram mortos por envenenamento.
A família preparou um jantar na virada de ano, mas começou a passar mal após requentar a comida para o almoço da última quarta-feira (1°). Na ocasião, eles ingeriram baião de dois que estava contaminado com terbufós, mais conhecido como chumbinho.
Às autoridades, Francisco disse que sequer tocou na panela em questão, mas depois reconheceu tê-lo feito. Ele também negou ter orientado alguns parentes a não mexerem no baião de dois, o que, de acordo com Silva, contrasta com o depoimento de testemunhas.
Além disso, Francisco mantinha um baú trancado com cadeado ao lado do fogão, “inacessível a qualquer outra pessoa na residência”.
– É o único lugar da casa que poderia esconder algo sem que os outros moradores soubessem. Levando em consideração que ele era o único com motivação plausível para cometer um crime tão raivoso e torpe, aliado às constantes contradições nos depoimentos, decidimos pela prisão temporária – explicou Silva.
O crime gerou quatro mortes. As vítimas são Francisca, seus filhos, Igno Davi, de 1 ano e 8 meses, e Maria Lauane Fontenele, de 3 anos. Também foi a óbito o irmão de Francisca, Manoel Leandro da Silva, de 18.
No total, nove pessoas da família comeram o alimento no almoço da última quarta-feira (1°). Os demais familiares já receberam alta médica, com exceção da terceira filha de Francisca, de 4 anos, que permanece internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) em estado grave.
No ano passado, já havia acontecido um caso de envenenamento na família. À época, Francisca tinha cinco filhos, e perdeu dois deles devido a cajus que teriam sido envenenados também com terbufós. O crime teria sido cometido por uma vizinha, que se encontra presa atualmente por duplo homicídio qualificado.