Ditadura de Ortega censura portais de notícias

O regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo bloqueou, nesta sexta-feira (14), o acesso aos sites de quatro meios de comunicação locais, em mais um passo da perseguição contra vozes dissidentes na Nicarágua.

A Universidade Nacional de Engenharia (UNI), estatal responsável pela administração dos domínios .ni no país, suspendeu suas operações sem aviso prévio, afetando os portais de 100% Noticias, La Prensa, Confidencial e Onda Local, que mantinham essa extensão.


“A ditadura de Daniel Ortega ordenou o bloqueio do site 100% Noticias no domínio .ni, em uma nova tentativa de censura contra a imprensa independente”, escreveu o meio de comunicação, que acrescentou que essa ação viola convenções internacionais sobre direitos digitais.

“Isso traz sérias consequências… Nosso domínio está pago até 2027. Não é por falta de pagamento, consultamos e ainda não obtivemos resposta… Vemos que é somente com os meios de comunicação”, disse a diretora, Lucía Pineda Ubau.

A plataforma Despacho 505 também denunciou o ocorrido, destacando que, ao avançar com o bloqueio sem justificativa ou aviso prévio, a UNI viola as normas estabelecidas pela ICANN (Corporation for Assigned Names and Numbers) e pela IANA (Internet Assigned Numbers Authority), além de contribuir para a transgressão dos direitos e liberdades civis e reforçar a maquinaria de intimidação e censura do regime.

A ONG Coletivo de Direitos Humanos para a Memória Histórica da Nicarágua expressou sua “mais enérgica condena ao bloqueio arbitrário dos sites desses meios de comunicação, por ser uma violação flagrante do direito à informação e de ser informado”.



“Este novo ataque direto ao espaço digital do jornalismo nicaraguense é outra tentativa falha da ditadura da Nicarágua de silenciar os meios de comunicação independentes e censurar o acesso à informação dos nicaraguenses, essencial para o exercício do direito de estar informado, além de atacar a liberdade de associação e a neutralidade da internet”, acrescentou a organização.

“Com o bloqueio aos meios de comunicação, a ditadura fere o direito à liberdade de expressão e à informação, para instaurar sua narrativa falsa e apagar os sete anos de violações de direitos humanos, crimes contra a humanidade e atos cruéis de tortura contra centenas de nicaraguenses”, alertou o Coletivo, que destacou que essas violações se tornam cada vez mais evidentes para a comunidade internacional.

De fato, a ONG lembrou que, em 2018, durante as protestos contra o governo, já havia ocorrido a “perseguição e criminalização do trabalho jornalístico”, com uma “onda de repressão e violência” contra esses profissionais, que incluiu “queimas”, “ataques”, “censuras”, o exílio de 280 jornalistas, a desnacionalização de 23 e a prisão de outros quatro.

Entre 2018 e 2023, pelo menos 54 meios de comunicação na Nicarágua foram obrigados a suspender suas atividades devido à pressão das autoridades. Inclusive, La Prensa, Confidencial, 100% Noticias e La Trinchera de la Noticia foram invadidos, com suas propriedades confiscadas, impedindo o funcionamento desses veículos.

Essas ações se somaram à crescente perseguição contra vozes e atores dissidentes no país, que são forçados a abandonar a Nicarágua por questões de segurança ou permanecem correndo o risco de serem presos.

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