A entrevista à revista The New Yorker concedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem gerado grande repercussão nos últimos dias em razão das fotos feitas pelo fotógrafo Fábio Setti – que, por sinal, foram publicadas nas redes sociais dele e depois excluídas. Porém, um outro detalhe também chama a atenção, o jornalista que elaborou o perfil do magistrado na publicação.
Jon Lee Anderson, jornalista e escritor de 68 anos, tem entre suas obras mais famosas a biografia de uma das figuras mais controversas da história: o argentino Che Guevara. O livro, lançado em 1997, recebeu no Brasil o nome de Che Guevara: Uma biografia, mas tem como título original Che Guevara: A Revolutionary Life (Che Guevara: Uma Vida Revolucionária, na tradução livre).
Para escrever o perfil de Moraes para a revista, o biógrafo de Che realizou duas entrevistas com o ministro do STF. No conteúdo publicado, há, em dado momento, uma mistura de ironia com vaidade por parte do ministro, como quando ele se coloca na posição de “herói” ao brincar sobre o suposto plano que visava matá-lo.
– Eu brinco com minha equipe de segurança que eu não poderia morrer. O herói do filme tem que continuar – diz Moraes.
Em outro ponto, o ministro chega a se posicionar sobre um processo em andamento, no que pode ser visto como uma violação à Lei Orgânica da Magistratura, ao dizer que não vê qualquer possibilidade de Bolsonaro disputar a eleição de 2026, já que, para ele, com as ações eleitorais tramitando no Supremo Tribunal Federal, uma reversão da inelegibilidade do líder conservador dificilmente acontecerá.
– Ele tem duas condenações por inelegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral. Então, não há possibilidade de ele retornar, porque ambos os casos já foram apelados e agora estão no Supremo Tribunal Federal. Somente o Supremo poderia reverter essas decisões, e eu não vejo a menor possibilidade de isso acontecer – declara o ministro.
O perfil de Moraes publicado por Jon Lee Anderson também traz vários comentários do magistrados sobre política nacional e internacional, com críticas ao que o magistrado chama de “extrema-direita”. Nesse contexto, o ministro volta a se posicionar sobre ações em andamento, já que faz juízos de valor sobre os atos de 8 de janeiro, que ainda tem diversas ações penais em andamento na Suprema Corte.
– O verdadeiro objetivo deles [envolvidos nos atos] era invadir os prédios, se recusar a sair e criar uma crise tão grave que o Exército seria forçado a intervir. Uma vez que os militares chegassem, eles pediriam apoio para um golpe – relata Moraes.
O texto, em boa parte, traz um viés mais pró-Moraes e endossa teses polêmicas do ministro, como ao dizer que a lei brasileira proíbe “espalhar falsos rumores sobre o sistema eleitoral”, sendo que não existe qualquer menção a isso na legislação brasileira, mas apenas em regras criadas pelo Judiciário.
No entanto, também há críticas ao STF, como quando a reportagem afirma que a Corte, ao agir investigar ataques virtuais, age como “vítima, acusador e juiz”, o que vem sendo denunciado pela direita há alguns anos. Há, por sinal, até a referência ao fato de que Moraes foi indicado por Temer por “gratidão” após o então ministro da Justiça prender os responsáveis por hackear o telefone da primeira-dama Marcela Temer.