A devastação da Amazônia voltou a crescer em 2025. Entre janeiro e junho, os alertas de desmatamento na região somaram mais de 2 mil quilômetros quadrados, segundo o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Trata-se de um crescimento de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, esta é a primeira alta registrada durante o atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A chamada Amazônia Legal, que abrange nove Estados e ocupa 59% do território nacional, enfrenta um aumento concentrado especialmente no Mato Grosso, Pará e Amazonas.
Juntos, esses Estados responderam por mais de 400 km² de áreas sob alerta apenas em junho. O Mato Grosso, sozinho, teve 206 km² — quase metade do total registrado no mês.
No semestre, o Mato Grosso lidera em destruição com folga: foram 1.097 km² de floresta derrubada, número 141% maior que o de 2024. A maior parte da devastação foi identificada em terras privadas, que concentraram 43,5% dos alertas em junho.
Áreas sem definição fundiária também aparecem em destaque. Florestas públicas não destinadas somam 17,5% dos alertas, enquanto terras sem registro fundiário, 21,4%.
O Deter, usado para identificar indícios de desmatamento em tempo real, é um sistema que emite alertas para áreas com mais de três hectares de alteração na vegetação.
Embora não produza os dados oficiais — função do sistema Prodes —, ele antecipa tendências e orienta ações de fiscalização.
Amazônia teve menos alertas em junho, mas dados podem estar distorcidos
No caso de junho, o Inpe aponta que o número total de alertas (458 km²) foi o menor da série histórica para o mês. Mas a melhora aparente esconde um obstáculo técnico.
Nesse sentido, foi também o mês com maior cobertura de nuvens dos últimos anos, o que compromete a visibilidade dos satélites e pode ter mascarado parte da destruição.
Apesar da atenção voltada à Amazônia, o Cerrado continua como o bioma mais desmatado do país. No primeiro semestre de 2025, o Deter registrou 3.358,3 km² de alertas na região, uma leve queda de 9,8% em comparação com o mesmo período de 2024.
Ainda assim, o volume segue superior ao da Floresta Amazônica. Grande parte da destruição ocorre por queimadas descontroladas, que encontram pouca resistência por parte do poder público.
Especialistas indicam há anos o descaso político e orçamentário com o bioma, que abriga as nascentes de oito das 12 principais bacias hidrográficas do país.
Enquanto o governo concentra discursos sobre proteção ambiental, o Cerrado segue perdendo cobertura vegetal a um ritmo mais acelerado que o da Amazônia.
A crise, portanto, expõe uma contradição. Mesmo sendo estratégico para a segurança hídrica e alimentar do Brasil, o bioma permanece fora das prioridades de gestão ambiental.
O cenário para os próximos meses dependerá não apenas da fiscalização, mas do destino de projetos legislativos que podem redefinir as regras do jogo na proteção ambiental brasileira.