Durante um evento em Osasco (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a retomada das negociações com os Estados Unidos e comentou a carta do presidente norte-americano Donald Trump, que criticou o tratamento dado a Jair Bolsonaro (PL) pela Justiça brasileira. Em seu discurso, Lula também mencionou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e fez comparações com figuras históricas.
“Minha vida é essa. Eu não quero brigar. Mas se quiser continuar brigando comigo, ainda não quero brigar. Mas se quiser continuar brigando comigo, aí vai ter”, afirmou Lula, ao comentar a relação com os EUA.
O presidente disse acreditar que Trump foi “induzido a acreditar em uma mentira” sobre a situação de Bolsonaro. “Se o presidente Trump tivesse ligado para mim, eu certamente explicaria para ele o que está acontecendo com o ex-presidente. Eu explicaria, porque tenho boa relação com todo mundo. Se ele me ligasse, mas não. Ele foi induzido a acreditar em uma mentira de que o Bolsonaro está sendo perseguido.”
Lula também comentou o episódio da invasão ao Capitólio, em 2021, nos EUA. Para ele, se algo semelhante tivesse ocorrido no Brasil, o então presidente norte-americano seria julgado como Bolsonaro está sendo. “Nós temos políticos no Brasil que tomaram para eles a bandeira nacional. Tomaram para ele a bandeira nacional, a camisa da seleção brasileira e se diziam patriotas.”
Ao mencionar o deputado Eduardo Bolsonaro, Lula fez uma comparação com Joaquim Silvério dos Reis, personagem histórico conhecido por delatar Tiradentes. “Apareceu um cara, que parecia amigo dele, que chamava Silvério dos Reis, e esse cara traiu o Tiradentes. Por conta dessa traição, Tiradentes foi preso e foi enforcado”, disse. Em seguida, acrescentou: “Esses mesmos cidadãos ou cidadãs que utilizavam a camisa da seleção brasileira e a bandeira nacional estão agora agarrados na bota do presidente dos Estados Unidos pedindo para ele fazer intervenção no Brasil. Numa total falta de patriotismo. Junta a falta de patriotismo com traição.”
Em tom irônico, Lula imitou o parlamentar: “Vocês na Câmara têm que tomar atitude. Ele se afastou, foi lá pros Estados Unidos ficar pedindo, ‘Trump, salva meu pai’, ‘Trump, salva meu pai’”.
O presidente também criticou parlamentares que, nesta semana, exibiram uma faixa com o nome de Trump em uma comissão na Câmara. “É uma pena que ainda tenha gente que não tem um pingo de caráter, um pingo de vergonha na cara”, afirmou.
Questionado sobre a situação de Bolsonaro, Lula declarou: “Bolsonaro não é problema meu, é da justiça brasileira”. E completou: “[Trump] pede na carta que a gente pare de perseguir Bolsonaro imediatamente.”
Lula também mencionou sua própria experiência durante a Operação Lava Jato. “Quando foram me propor um acordo para eu ir para casa de tornozeleira, eu disse para eles que não troco minha dignidade pela minha liberdade. Não vou colocar tornozeleira porque não sou pombo correio.”
Sobre a carta de Trump e a relação bilateral, Lula voltou a defender a regulação das plataformas digitais e criticou o superávit comercial dos EUA em relação ao Brasil. “Nós vamos fazer regulação. Porque eles têm que respeitar a legislação brasileira. Não pode ficar promovendo ódio entre os adolescentes, contando mentira, tentando destruir a democracia e o Estado democrático”, disse.
“Todos os dados brasileiros sobre saúde, sobre educação, tudo, está nas mãos de quem? Está nas mãos dos americanos. Nós gastamos com eles no ano passado 23 bilhões [ele não disse em qual moeda]. Então, se você pegar serviços e comércio, eles têm um superávit, em 15 anos, de US$ 410 bilhões. Então, quem deveria estar reclamando éramos nós. E nós não estamos reclamando, estamos querendo negociar”, completou.
Por fim, Lula falou sobre o programa Celular Seguro e comentou o cenário político nas periferias. “O que é que leva uma pessoa que mora na periferia a votar num cara rico? Ora, porque quando a gente vota num cara rico significa que a gente está colocando uma raposa para tomar conta do galinheiro. Vocês acham que a raposa vai tomar conta do galinheiro?”
O presidente também respondeu a críticas à comunicação do governo, que tem sido acusada de reforçar uma divisão política. “Não é nós contra eles, é ‘eles contra nós’”, afirmou.