O Brasil revisou os parâmetros de risco para a pressão arterial. Uma nova diretriz, divulgada nesta quinta-feira (18) durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, passa a classificar como pré-hipertensão valores entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9 (120-139 mmHg sistólica e/ou 80-89 mmHg diastólica). A medida é uma iniciativa conjunta da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).
A hipertensão é silenciosa, mas representa a principal causa de infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVC) no país. Dados da SBH indicam que 27,9% dos adultos brasileiros convivem com a doença, mas apenas um terço mantém a pressão realmente controlada.
Antes considerados “normais limítrofes”, esses valores agora exigem atenção médica. A mudança reforça a prevenção: mudanças no estilo de vida devem ser recomendadas e, dependendo do risco, medicamentos podem ser indicados mesmo antes da hipertensão estar totalmente instalada.
A nova diretriz também endurece a meta de tratamento. Até então, manter a pressão a partir de 14 por 9 (140/90 mmHg) era considerado suficiente. Agora, o alvo recomendado é abaixo de 13 por 8.
Segundo os autores, esse limite mais baixo é essencial para reduzir complicações cardiovasculares e renais. Para pacientes que não toleram reduções intensas, a orientação é atingir o nível mais baixo possível dentro da segurança clínica.
Pela primeira vez, a diretriz brasileira vai além do controle numérico da pressão arterial. O documento incorpora o escore PREVENT, que avalia a probabilidade de um paciente sofrer um evento cardiovascular em dez anos, considerando obesidade, diabetes, colesterol alto e lesões em órgãos-alvo como rins e coração. A partir desse resultado, médicos devem intensificar condutas para pacientes de alto ou muito alto risco, aproximando o cuidado da chamada medicina de precisão.
O relatório dedica um capítulo exclusivo ao Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecendo que 75% dos pacientes hipertensos são acompanhados na rede pública. As recomendações incluem priorizar medicamentos disponíveis na rede, garantir protocolos multiprofissionais e estimular monitoramento ambulatorial (MAPA) e residencial (MRPA), quando possível.
Além disso, a diretriz traz orientações específicas para a saúde feminina, considerando fases de maior vulnerabilidade à hipertensão ao longo da vida.