Lula diz que Marco Rubio “desconhece o Brasil” e pede diálogo sem preconceito

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (6) que pediu ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, que mantenha um diálogo com o Brasil “sem preconceito”. A declaração foi feita após o republicano, crítico do governo brasileiro, ser designado para negociar o tarifaço de 50% imposto pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros.


Em entrevista ao Grupo Mirante, no Maranhão, Lula contou que o pedido foi feito diretamente a Trump, durante uma ligação telefônica entre os dois líderes. “Eu pedi para ele [Trump] dizer ao Marco Rubio para conversar com o Brasil sem preconceito, porque pelas entrevistas que ele deu há um certo desconhecimento sobre o país”, afirmou o presidente.

Do lado brasileiro, as negociações estão a cargo do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, do chanceler Mauro Vieira e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A expectativa é que Rubio se reúna primeiro com autoridades norte-americanas e, em seguida, entre em contato com representantes do governo brasileiro.

Lula disse ainda que, embora existam mediadores, ele e Trump pretendem manter uma comunicação direta. “Se for uma coisa que precisar envolver mais gente, eu vou envolver, porque não sou eu que faço as negociações. Mas quando eu tiver um assunto político grave e eu tiver que tratar com o presidente Trump e ele comigo, a gente não vai precisar ficar esperando que a burocracia, que a liturgia, marque uma data. Não. A gente pega o telefone, liga um para o outro e coloca o assunto na mesa”, declarou.

taxa de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada em agosto e passou a valer no dia 6 daquele mês. Em carta enviada a Brasília, Trump justificou a medida como uma forma de “corrigir as graves injustiças do sistema comercial” e associou o aumento das tarifas ao que chamou de “perseguição política” ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de “ataques à liberdade de expressão”.


O governo brasileiro reagiu, classificando a justificativa norte-americana como “falsa”. Lula afirmou que “é falsa a informação sobre o alegado déficit norte-americano” e reforçou que o “Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Em resposta ao tarifaço, o Planalto chegou a cogitar retaliações com base na Lei da Reciprocidade Econômica.

A medida dos Estados Unidos atinge 35,9% das mercadorias exportadas ao país, o equivalente a cerca de 4% das exportações brasileiras. Para reduzir os impactos, o governo anunciou um plano de contingência com uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para produtores afetados e o início de negociações com novos parceiros comerciais.

Perfil de Marco Rubio

De origem cubana, Marco Rubio é conhecido por suas posições conservadoras e por seu forte interesse na política latino-americana. Ele se aproximou da família Bolsonaro em 2018, quando conheceu o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) durante uma visita aos Estados Unidos, e, em 2020, chegou a se reunir com o então presidente Jair Bolsonaro, elogiando “a nova era da política brasileira”.

Desde que assumiu o cargo de secretário de Estado, Rubio tem feito críticas recorrentes ao Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente após a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. À época, o republicano acusou o tribunal de promover uma “caça às bruxas”.

Nascido em Miami, em 1971, Rubio é filho de imigrantes cubanos. Formado em Ciências Políticas pela Universidade da Flórida, iniciou sua carreira pública como deputado estadual e chegou ao Senado em 2010, permanecendo até 2025. Em 2015 e 2016, foi rival de Trump nas primárias republicanas, quando recebeu o apelido de “Little Marco” (“Marquinhos”), mas anos depois se tornou um dos aliados mais próximos do ex-presidente.

Atualmente, Rubio ocupa um dos cargos mais poderosos do governo norte-americano — e, agora, tem diante de si o desafio de conduzir uma das negociações diplomáticas mais delicadas entre Washington e Brasília nos últimos anos.

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