Conselheira tutelar revela triste história de jovem morto por leoa

A conselheira tutelar Verônica Oliveira relatou que acompanhava Gerson de Melo Machado – morto por uma leoa após invadir a jaula do animal em zoológico da Paraíba – desde que o rapaz tinha 10 anos. Segundo ela, o jovem hoje com 19 anos era filho e neto de mulheres com esquizofrenia e sofria da mesma condição.

Ela afirma que seu primeiro contato com Vaqueirinho – como ele era apelidado – foi após agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) terem-no encontrado sozinho em uma BR aos 10 anos e o encaminhado ao Conselho Tutelar.


Verônica conta que Gerson foi uma “criança que sofreu todo tipo de violação de direito” e vivia em situação de “pobreza extrema”.

– Eu e a conselheira Patrícia Falcão recebemos você das mãos da PRF, encontrado sozinho na BR. Desde então, toda a Rede de Proteção me procurava sempre que algo acontecia com você. Eu conheci a criança destituída do poder familiar da mãe, impedido de ser adotado como os outros quatro irmãos. Você só queria voltar a ser filho da sua mãe, que é esquizofrênica e não tinha condições de cuidado. Sua avó, também com transtornos mentais. Mas a sociedade, sem conhecer sua história, preferiu te jogar na jaula dos leões – lamentou Verônica, em post nas redes sociais.

Segundo a conselheira tutelar, Gerson foi retirado do acolhimento institucional aos 18 anos e “entregue à própria sorte”. Verônica conta que vinha lutando para que o Estado prestasse a devida assistência ao rapaz, mas pareceres emitidos por profissionais do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira (CPJM) diziam que o jovem tinha apenas um problema comportamental.

– Será que alguém com problema comportamental entra na jaula do leão? Joga paralelepípedo no carro da polícia? Não. Gerson precisava de tratamento, que não foi oferecido (…) Nós lutamos muito, tentando garantir os direitos de Gerson. O meu sentimento hoje é de revolta. Ele precisava estar em tratamento psiquiátrico e não estava – frisou.


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Verônica afirma ainda que a falta de albergues para acolher pessoas com problemas psiquiátricos na cidade agravou a situação de vulnerabilidade do jovem.

– Um albergue é o grande sonho do movimento [antimanicomial]. Já existem albergues assim em outros lugares do Brasil, onde se trabalha a autonomia e o acolhimento. Lá eles têm mais autonomia, têm um acompanhamento mais de perto. Não foi o caso de Gerson. Depois que ele fez 18 anos, ele foi entregue à própria sorte. Saiu do acolhimento institucional e entrou no sistema prisional – contou ela.

Ainda segundo a conselheira tutelar, Vaqueirinho sonhava em morar na África e trabalhar como domador de leões.

– Gerson, meu menino sem juízo… Quantas vezes, na sala do Conselho Tutelar, você dizia que ia pegar um avião para ir a um safári na África cuidar de leões. Você ainda tentou. E eu agradeci a Deus quando o aeroporto me avisou que você tinha cortado a cerca e entrado no trem de pouso de um avião da Gol. Graças a Deus, observaram pelas câmeras antes que uma tragédia acontecesse. Foram oito anos acompanhando você, lutando, brigando para garantir seus direitos – assinalou.

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