O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (PL-RJ), preso preventivamente na última quarta-feira (3), prestou depoimento à Polícia Federal (PF) e confirmou ter mantido contato com o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, um dia antes da operação que resultou na prisão de TH.
O depoimento, obtido pelo programa “Fantástico”, da TV Globo, e exibido neste domingo (7), é central para a investigação que apura a suspeita de vazamento de informações sigilosas para beneficiar TH Joias, acusado de lavar dinheiro para o Comando Vermelho, negociar armas e atuar como elo da facção dentro da Alerj.
Durante o interrogatório, Bacellar afirmou que só conheceu TH Joias quando ele assumiu o mandato e negou qualquer proximidade anterior.
“Nunca, nunca o tinha visto na vida. Nunca”, disse.
O presidente da Alerj alegou que o relacionamento era estritamente institucional: “Eu sou presidente do Parlamento. Tenho que atender todos indistintamente”.
No entanto, a PF encontrou no celular de TH mensagens frequentes e de tom informal trocadas com Bacellar, cujo contato estava salvo como “Predestinado”. Na véspera da operação, o ex-deputado enviou vídeos e brincadeiras sobre “roubar a carne” com peças de picanha em freezers. Em outra mensagem, TH escreveu: “Fala 01. Estou nesse”, e Bacellar respondeu com figurinhas.
Questionado sobre o conteúdo, o presidente da Alerj tentou minimizar:
“Eu acho que ele mandou uma coisa que ele quer tirar, uma geladeira, alguma coisa assim. Foi aí que eu o chamei de doido”.
No auge da comunicação, TH perguntou diretamente a Bacellar se seria alvo de alguma operação policial: “Você está sabendo de alguma coisa de operação amanhã pra mim?”. Bacellar respondeu que não sabia.
Horas após essa troca de mensagens, imagens mostram um caminhão retirando objetos da residência do ex-deputado. Na manhã seguinte, por volta das 6h, TH enviou fotos de agentes da PF dentro de sua casa. Bacellar declarou ter se surpreendido com a atitude do colega: “O cara é maluco, o cara me manda […] dos policiais lá na casa dele”.
Investigadores questionaram por que Bacellar não alertou nenhuma autoridade ao receber a suspeita de que uma operação estava em curso. Ele respondeu: “Não procurei absolutamente ninguém”.
Em seguida, o presidente da Alerj completou, justificando sua omissão: “Não tô aqui pra entregar colega. Não tô aqui para proteger colega também que faz nada errado”.
No momento em que foi conduzido à sede da PF, agentes encontraram R$ 90 mil em espécie no carro de Bacellar. Sobre a origem do valor, ele afirmou: “Vou me reservar o direito de apresentar depois a comprovação”.
O senador também declarou ter ouvido rumores sobre o histórico criminal de TH, mas disse que isso não interferia na convivência institucional:
“Ah, o pessoal fala que é ligado a comando, sei lá o quê”, declarou. E completou: “Da porta pra dentro, se você tiver uma atitude de bom convívio com todo mundo, o que você faz na rua não me diz respeito”.
A defesa de Rodrigo Bacellar nega veementemente que ele tenha vazado informações ou interferido nas investigações. A defesa de TH Joias informou que ainda não teve acesso aos autos do processo.