O governo da Argentina denunciou um corte no fornecimento de energia à embaixada do país em Caracas, revelando que no local estão abrigados ao menos cinco opositores do governo de Nicolás Maduro que tiveram ordens de prisão emitidas contra si. O incidente é mais um episódio da tensão crescente entre a Venezuela e o governo de Javier Milei, que não raro chama o líder venezuelano de ditador.
Em comunicado emitido nesta terça, o governo de Milei afirma que o corte ocorreu na segunda-feira, sem qualquer aviso prévio ou explicação, e “alerta o governo da Venezuela contra qualquer ação deliberada que ponha em perigo a segurança do pessoal diplomático argentino e dos cidadãos venezuelanos sob proteção”. O texto relembra a Caracas a “obrigação do Estado receptor de resguardar as instalações da missão diplomática contra intrusões ou danos, e de preservar a tranquilidade e a dignidade da mesma”. A nota não descreve se o fornecimento foi retomado, e o governo venezuelano não se pronunciou.
Segundo a imprensa argentina, citando fontes da Chancelaria e da Casa Rosada, os dirigentes oposicionistas Magallí Meda, Claudia Macero, Humberto Villalobos, Pedro Urruchurtu e Omar González estão na representação diplomática do país. Todos têm contra si ordens de prisão, emitidas pelo procurador-geral Tarek William Saab, ligado a Maduro, por “ações violentas”, “terrorismo” e “desestabilização” do país. Os nomes não são citados pela nota, que fala apenas em “cidadãos venezuelanos sob proteção”, e não se sabe desde quando os cinco estão na embaixada.
Eles são aliados da ex-candidata à Presidência, María Corina Machado, inabilitada por 15 anos por decisão da Justiça do país — na segunda-feira, a sua “substituta” na eleição presidencial, Corina Yoris, não conseguiu se inscrever no sistema do Conselho Nacional Eleitoral, e alegou que se tratou de uma ação deliberada dos chavistas para barrá-la. Com isso, Maduro deve enfrentar em 28 de julho o governador do estado de Zulia, Manuel Rosales, um nome que não agrada o entorno de Maria Corina Machado.
Na nota, o governo da Argentina, além de pontuar a “histórica vocação de fomento e defesa dos direitos humanos fundamentais”, demonstra sua “inquietação diante da deterioração da situação dos direitos humanos e dos atos de hostilidade e perseguição contra figuras políticas da Venezuela”. Por fim, o texto exorta Maduro a “assegurar a segurança e o bem estar do povo venezuelano”, e “convocar eleições livres, democráticas e competitivas, sem vetos de qualquer tipo”.
Desde a chegada de Javier Milei ao poder, as relações entre Buenos Aires e Caracas se deterioraram a olhos vistos. Além da troca pública de hostilidades entre os dois chefes de Estado, no mês passado os argentinos decidiram entregar à Justiça dos EUA um avião da empresa venezuelana Emtrasur, que ficou retido por meses na capital argentina a pedido dos americanos.
Segundo Washington a Emtrasur comprou a aeronave da iraniana Mahan Air em uma operação viabilizada através de uma triangulação envolvendo uma empresa dos Emirados Árabes Unidos, como forma de driblar as sanções dos EUA. Emtrasur e Mahan estão na lista de empresas sob sanções do Departamento do Tesouro
Em resposta, Maduro anunciou, no dia 12 de março, que aeronaves argentinas não poderiam mais sobrevoar o território venezuelano, uma decisão que afetaria pelo menos duas rotas operadas por empresas do país. O governo Milei anunciou que vai tomar as medidas cabíveis em instituições internacionais.
- Irmãos Brazão são transferidos do DF para outras prisões federais
- “Não existe comunismo no Brasil”, afirma presidente do STM