China quer metade de empresa brasileira de itens militares

A estatal chinesa Norinco enviou uma proposta a autoridades brasileiras para adquirir 49% das ações da Avibras Aeroespacial, a principal fabricante de sistemas pesados de defesa do Brasil. O tema, porém, tem gerado grandes discussões nas últimas semanas. Questões relacionadas ao impacto geopolítico da negociação, por exemplo, devem fazer parte das tratativas.


De acordo com uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o interesse da empresa chinesa surgiu após o grupo de investidores australiano DefendTex desistir das negociações com a Avibras por dificuldade de obter financiamento para a empreitada, que está avaliada em 200 milhões de dólares (R$ 1,08 bilhão)

QUEM É A AVIBRAS
A Avibras Aeroespacial é atualmente a principal fornecedora brasileira de mísseis e foguetes para o Exército. Por sinal, a empresa ainda é a única responsável por fornecer munições para um dos projetos estratégicos de defesa da Força, o Sistema Astros, e está desenvolvendo o primeiro míssil tático de cruzeiro brasileiro, que tem capacidade de atingir alvos a 300 km de distância.

No entanto, a empresa tem sofrido com dificuldades financeiras há mais de uma década e, em março de 2022, pediu recuperação judicial. Na época, a companhia possuía dívidas estimadas em R$ 570 milhões, quantia que hoje beira os R$ 700 milhões. Um dos sinais da crise está no fato de que os funcionários que seguem na empresa estão sem salários há mais de um ano.

QUESTÕES QUE ENVOLVEM A VENDA
A estatal chinesa Norinco (China North Industries Corporation) é hoje uma gigante da indústria de armas mundial. A empresa fabrica veículos, atua em setores de petróleo e de produtos químicos e está envolvida em projetos de construção civil na China. Em 2019, a China divulgou o projeto de um grande explosivo criado pela empresa e apelidado de “mãe de todas as bombas”.

A negociação envolvendo a empresa chinesa e a Avibras ainda deve passar por uma análise da diplomacia brasileira, que deve avaliar o impacto geopolítico do negócio. A avaliação do Ministério da Defesa, de acordo com a Folha, é de que a venda de 49% da empresa e a manutenção do controle com o Brasil seria “menos trágica” que uma venda de toda a Avibras.

No último dia 13 de maio, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse ter recebido uma carta de um grupo estrangeiro interessado em negociar com a empresa, mas não revelou ser esse grupo seria a Norinco. Porém, Múcio citou o percentual de 49%.

– Hoje apareceu um novo candidato. Recebi uma carta de uma empresa de outro país, muito forte, com interesse em chegar com 49% [das ações]. Estamos trabalhando para que isso aconteça – disse Múcio em videoconferência com ex-ministros da Defesa promovida pela Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen).

ESTADOS UNIDOS PODEM TRAVAR NEGÓCIO
O impacto geopolítico do negócio pode esbarrar até mesmo na principal potência militar do mundo: os Estados Unidos. A razão para isso é que os americanos impuseram uma sanção à empresa chinesa em 2021. Na época, os EUA decretaram um veto ao uso de itens da Norinco sob o argumento de que o grupo representava ameaça para a “segurança nacional, política externa e economia”.

Na prática, essa sanção proíbe que equipamentos de defesa americanos sejam integrados a sistemas vinculados à empresa Norinco. Portanto, se o veto se estender aos produtos da Avibras, uma série de programas das Forças Armadas brasileiras terão de trocar equipamentos americanos por produtos de outra nacionalidade.

Um desses casos é justamente o do sistema Astros, cujo mecanismo de artilharia é abastecido pela Avibras, mas com viaturas que utilizam o sistema de comunicações da empresa americana Harris Corporation. A companhia brasileira ainda possui outras sete empresas dos EUA como fornecedoras em sua cadeia produtiva.

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