A Coca-Cola vai lançar nos Estados Unidos uma nova versão de seu refrigerante tradicional adoçada com açúcar de cana, substituindo o xarope de milho normalmente utilizado no país. O anúncio foi feito pela empresa nesta terça-feira (22), poucos dias após o presidente Donald Trump comentar sobre o tema em suas redes sociais.
“Como parte de sua agenda contínua de inovação, a empresa planeja lançar neste outono, nos Estados Unidos, uma versão com açúcar de cana produzido no país para ampliar a linha de produtos da marca Coca-Cola”, informou a companhia em nota.
Sediada em Atlanta, a Coca-Cola afirmou que a novidade vai complementar as versões já existentes do refrigerante. A fórmula tradicional vendida nos EUA é adoçada com xarope de milho rico em frutose, enquanto o açúcar de cana é usado em países como México e diversas nações europeias.
A novidade foi revelada dias após Trump escrever no Truth Social que havia “falado com a Coca-Cola sobre o uso de AÇÚCAR DE CANA REAL na Coca nos Estados Unidos — e eles concordaram em fazer isso”. Fã declarado de Diet Coke, ele acrescentou: “Será uma decisão muito boa da parte deles — vocês vão ver. É simplesmente melhor!”.
Inicialmente, a Coca-Cola evitou confirmar a postagem. Na semana passada, disse apenas que apreciava “o entusiasmo do presidente Trump pela nossa icônica marca”, mas que “mais detalhes seriam divulgados em breve”.
Nos EUA, a Coca-Cola adoçada com açúcar de cana é popularmente conhecida como “Coca mexicana”, por ser comumente importada do México.
Durante teleconferência sobre os resultados trimestrais, o CEO da Coca-Cola, James Quincey, disse que a empresa já utiliza açúcar de cana em outros produtos, como chás, limonadas, cafés e bebidas como a Vitamin Water. “Acreditamos que será uma opção duradoura para os consumidores”, afirmou. “Estamos explorando todo o leque de adoçantes disponíveis, conforme as preferências do público.”
A mudança também foi associada à iniciativa “Make America Healthy Again” (“Torne a América Saudável de Novo”), promovida por Trump e por aliados como o secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr., que pressiona a indústria alimentícia a reformular produtos e eliminar ingredientes como corantes artificiais.
Contudo, especialistas em saúde alertam que a substituição do xarope de milho por açúcar de cana pode não trazer benefícios nutricionais. O cardiologista Dariush Mozaffarian, da Universidade Tufts, afirmou à NBC News que “ambos possuem cerca de 50% de frutose e 50% de glicose e têm efeitos metabólicos idênticos”. Segundo ele, “os dois podem aumentar o risco de obesidade, diabetes, triglicerídeos altos e hipertensão”.
O anúncio também gerou reação da indústria agrícola. O CEO da Corn Refiners Association, John Bode, criticou a substituição. “Trocar o xarope de milho por açúcar de cana não faz sentido, especialmente considerando o apoio de Trump aos agricultores americanos”, disse. “A mudança pode custar milhares de empregos na indústria alimentícia, reduzir a renda rural e aumentar a importação de açúcar estrangeiro — sem oferecer qualquer benefício nutricional.”

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Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o açúcar de cana nacional é produzido majoritariamente no Texas, na Flórida e na Louisiana, mas responde por apenas 30% da oferta total no país. O restante vem da beterraba ou é importado.
Trump tem uma longa relação com a marca. Em 2012, tuitou que a Coca-Cola “não gostava dele”, mas que continuaria “bebendo aquela porcaria”. No mesmo ano, também escreveu que tomar Diet Coke “faz a pessoa feliz”.
Em janeiro, o CEO da Coca-Cola visitou o resort Mar-a-Lago e presenteou Trump com uma garrafa personalizada em comemoração à sua próxima posse.
“O presidente Trump prometeu tornar a América saudável novamente, e isso começa com o que comemos e bebemos”, afirmou o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai. “O governo está comprometido em trabalhar com empresas de alimentos e bebidas para ampliar as opções disponíveis para o povo americano.”