Depoimentos prestados ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica apontaram divergências sobre como foi comunicado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que os militares não apoiariam eventuais medidas para interferir no resultado das eleições de 2022.
Enquanto o ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista Júnior, afirmou que houve um alerta direto com ameaça de prisão, o general Antônio Freire Gomes, que chefiava o Exército, disse ter apenas sinalizado que a corporação não participaria de qualquer interferência nas eleições.
Em depoimento nesta quarta (21), Baptista Júnior relatou que, durante uma reunião em 14 de novembro de 2022, ele e Freire Gomes disseram a Bolsonaro que não apoiariam um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa ou sítio para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O brigadeiro afirmou ainda que Freire Gomes chegou a dizer ao então presidente: “Se o senhor fizer isso, terei que te prender”.
Freire Gomes, por sua vez, depôs dois dias antes e negou ter ameaçado prender Bolsonaro. Segundo o general, ele apenas alertou o presidente de que o Exército não apoiaria qualquer tentativa de interferência no processo eleitoral, e que Bolsonaro teria “concordado” com a posição dos militares.
Ainda segundo o depoimento do ex-chefe da Aeronáutica, durante a reunião de 14 de novembro, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, teria apresentado um documento para análise dos comandantes. Baptista Júnior disse ter se recusado recebê-lo e deixado a reunião. Ele relatou que o ministro teria consentido em silêncio ao ser questionado se o texto previa a não assunção de Lula.
Freire Gomes, por sua vez, confirmou que houve uma apresentação informal de ideias envolvendo GLO, estado de defesa ou sítio, mas alegou que o conteúdo era superficial e apresentado apenas como estudo. Ele disse ainda que não houve qualquer ordem de Bolsonaro, apenas uma exposição de possibilidades.
– Foi apresentado um documento, em que foi lido alguns “considerandos” e que remetiam a possível GLO [operação de garantia da lei e da ordem], estado de defesa ou de sítio, mas muito superficial. Não estava o Baptista Júnior [ex-comandante da Aeronáutica]. Apresentou apenas como informação, apenas para que soubéssemos e que estava desenvolvendo estudo. Não nos deu qualquer orientação – completou.