O estudante brasileiro Marcelo Gomes, de 18 anos, foi detido por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) na manhã de sábado (31), quando seguia para um treino de vôlei em Milford, Massachusetts. A ação surpreendeu a comunidade escolar e gerou protestos de alunos e moradores, segundo a imprensa norte-americana.
Marcelo mora nos EUA desde pequeno, estuda na Milford High School e estava dirigindo o carro a caminho do colégio, acompanhado de três colegas de equipe, quando veículos sem identificação o interceptaram. Os agentes do ICE o prenderam imediatamente. Ele seria um dos músicos da banda escolar na cerimônia de formatura, onde tocaria bateria.
De acordo com a emissora CBS News, Marcelo está sob custódia desde então por estar em situação migratória irregular. Todd Lyons, diretor interino do ICE em Boston, afirmou que os agentes buscavam, na verdade, o pai do jovem, e que o carro abordado estava registrado em nome dele.
“Eu não disse que ele era perigoso, eu disse que ele está neste país ilegalmente, e não vamos ignorar ninguém”, declarou Lyons durante entrevista coletiva. Ele também afirmou que o pai de Marcelo ainda não se apresentou às autoridades.
A advogada de defesa, Miriam Conrad, entrou com um pedido de habeas corpus na Justiça Federal de Massachusetts, solicitando a libertação imediata do jovem. No documento, ela destaca que Marcelo não tem antecedentes criminais em nenhum lugar do mundo e que ele entrou legalmente nos EUA com visto de estudante em 2012.
“Seu status de visto de estudante expirou, mas o peticionário é elegível e pretende solicitar asilo”, escreveu Conrad. Um juiz federal emitiu uma ordem de emergência no domingo (1/6) proibindo a transferência de Marcelo para fora do estado por pelo menos 72 horas.
O caso ocorre em meio a uma intensificação nas ações do governo Trump para acelerar deportações. No mesmo período, autoridades migratórias deportaram uma menina americana de dois anos junto com seus pais brasileiros, deixando-a sem cidadania reconhecida. Também prenderam um pai dinamarquês de quatro filhos por erro burocrático durante entrevista de naturalização.
prisão de Marcelo gerou indignação na comunidade de Milford. Mais de mil pessoas participaram de um protesto no domingo (1/6), incluindo colegas de Marcelo vestidos com beca, logo após a cerimônia de formatura da qual ele não pôde participar.
“Ele está aqui há 13 anos. É tudo que ele conhece. Milford e Massachusetts são tudo que ele conhece”, afirmou sua prima, Ana Júlia Araújo, à CBS.
A mãe de um estudante, Elizabeth Grady, criticou duramente a operação:
“Seus pais estão apavorados, seus colegas estão apavorados, seus companheiros de equipe estão apavorados. Estudantes não deveriam ter medo de ir a um treino de vôlei. Esse não é o Estados Unidos da América que nós escolhemos.”
O chefe da polícia local, Robert Tusino, também condenou a operação do ICE por não ter informado previamente as autoridades municipais:
“Queremos diálogo aberto com o governo federal sobre quem está sendo detido e por quê. Não queremos pessoas sendo presas simplesmente por estarem aqui ilegalmente.”
A governadora democrata de Massachusetts, Maura Healey, disse estar “perturbada e indignada” com a prisão de Marcelo e exigiu esclarecimentos imediatos do ICE:
“Meu coração está com a comunidade de Milford em um dia que deveria ser de celebração. O governo Trump continua a espalhar medo em nossas comunidades, tornando todos nós menos seguros.”
Em resposta às críticas, Tricia McLaughlin, secretária assistente de Assuntos Públicos do Departamento de Segurança Interna, afirmou ao Daily Beast que a operação tinha como alvo o pai de Marcelo, identificado como João Paulo Gomes-Pereira.
“As autoridades locais notificaram o ICE de que esse estrangeiro ilegal tem o hábito de dirigir de forma imprudente a mais de 160 km/h em áreas residenciais, colocando os residentes de Massachusetts em risco”, disse.
Segundo McLaughlin, ao identificar o veículo do alvo, os agentes realizaram a abordagem e encontraram Marcelo Gomes-Da Silva, que também está em situação irregular.
“Embora os agentes não tivessem a intenção de prender Gomes-Da Silva, ele estava nos EUA ilegalmente e sujeito a processo de deportação, então foi preso. Ele permanece sob custódia do ICE enquanto aguarda os procedimentos.”