A governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou uma carta oficial em resposta a um artigo publicado pela revista britânica The Economist, que questionou a relevância do presidente brasileiro no cenário internacional. O texto, assinado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi encaminhado à redação da revista por meio da Embaixada do Brasil em Londres.
No artigo publicado no domingo (29), a The Economist criticou a aproximação do governo Lula com países como China e Rússia, classificando a postura do Brasil como “cada vez mais hostil ao Ocidente”. A publicação também destacou uma suposta perda de popularidade do presidente no cenário doméstico.
A revista chamou atenção para o posicionamento brasileiro diante do ataque dos Estados Unidos ao Irã, ocorrido em 22 de junho, no contexto das crescentes tensões no Oriente Médio. Na ocasião, o governo brasileiro emitiu uma nota na qual condenou “com veemência” a ação norte-americana.
Segundo a The Economist, essa reação colocou o Brasil “em desacordo com todas as outras democracias ocidentais, que ou apoiaram os ataques ou apenas expressaram preocupação”.
Em resposta, o ministro Mauro Vieira defendeu que o presidente Lula mantém, de forma coerente, os pilares de democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo em sua atuação internacional. A carta ressaltou o compromisso do Brasil em preservar esses valores e atuar com independência em sua política externa.
Leia a nota na íntegra
“Em relação ao recente artigo publicado na sua página na internet em 29 de junho, gostaria de fazer as seguintes considerações.
Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas.
O Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.
Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra.
A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala.
Na gestão do Presidente Lula, o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que apontou a necessidade de abrir caminhos para uma resolução diplomática do conflito, ainda em 2023.
Lula não é popular entre os negacionistas climáticos. Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.
Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível.”