A Caixa Econômica Federal lançará até o fim de novembro sua própria plataforma de apostas esportivas online, em uma tentativa de recuperar espaço no mercado dominado por empresas privadas. Batizada informalmente de “bet da Caixa”, a iniciativa tem como meta arrecadar entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões até 2026, segundo o presidente do banco, Carlos Vieira, em entrevista ao Money Times.
De acordo com Vieira, o avanço das plataformas privadas já impacta diretamente as loterias tradicionais. Em 2024, a arrecadação foi de R$ 27 bilhões, mas a previsão é de queda neste ano. Apenas no primeiro trimestre de 2025, as loterias da Caixa registraram R$ 5,5 bilhões, uma retração de 29% em relação ao trimestre anterior e 10% na comparação anual.
O setor de apostas online, por outro lado, segue em forte expansão. Dados da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda apontam que, apenas no primeiro semestre de 2025, os jogos digitais movimentaram R$ 17,4 bilhões em apostas líquidas, com gasto médio de R$ 983 por usuário ativo — cerca de 10% do salário mínimo atual. Atualmente, 78 empresas estão autorizadas a operar no país, somando 182 marcas diferentes.
A arrecadação de impostos também reflete essa mudança. Entre janeiro e julho, a Receita Federal recolheu R$ 4,73 bilhões em tributos sobre jogos, sendo R$ 2,6 bilhões provenientes das apostas esportivas e R$ 2,1 bilhões das loterias.
Vieira destacou ainda a importância da Mega da Virada, responsável por cerca de 10% da arrecadação anual das loterias da Caixa. Em 2024, o prêmio recorde de R$ 635,4 milhões foi dividido entre oito apostadores.
Segundo o presidente, a nova plataforma pretende unir a capilaridade da Caixa à credibilidade da instituição pública, buscando competir de forma mais equilibrada com as grandes operadoras privadas de apostas esportivas.
Críticas no Congresso
A decisão, no entanto, recebeu críticas no Senado. Em pronunciamento nesta quarta-feira (22), a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) classificou a iniciativa como “um retrocesso moral e social”.
Para a parlamentar, o lançamento da “bet da Caixa” contradiz o papel histórico do banco e ameaça as famílias brasileiras por estimular o vício em jogos de azar.
“A decisão da Caixa de criar sua própria plataforma de apostas representa talvez um dos maiores retrocessos morais e sociais da história recente do país”, afirmou Damares. “Trata-se de um movimento perigoso e profundamente irresponsável, vindo justamente de uma instituição pública que nasceu para promover o desenvolvimento social, e não para explorar o vício e a vulnerabilidade econômica da população mais pobre.”
Damares também argumentou que a medida vai na contramão do discurso do governo federal, que tem defendido o combate aos efeitos nocivos das apostas online, como endividamento, desagregação familiar e problemas de saúde mental.