A Índia disparou mísseis contra território paquistanês na madrugada desta quarta-feira (horário local), em uma escalada significativa nas tensões entre os dois rivais com arsenal nuclear. O governo do Paquistão prometeu retaliar.
Segundo o governo indiano, foram atingidos nove alvos descritos como “ataques de precisão contra acampamentos terroristas” na Caxemira sob controle paquistanês, dias após Nova Délhi culpar Islamabad por um ataque mortal ocorrido no lado indiano da região disputada.
O Exército do Paquistão afirmou que três locais foram atingidos: dois na Caxemira sob controle paquistanês e um em Bahawalpur, cidade na província do Punjab, a mais populosa do país e que faz fronteira com a Índia. Pelo menos três pessoas morreram nos ataques, segundo os militares paquistaneses.
Correspondentes da AFP relataram ter ouvido várias explosões intensas tanto na Caxemira quanto no Punjab paquistanês.
“Responderemos no momento que considerarmos apropriado”, declarou o porta-voz das Forças Armadas do Paquistão, general Ahmed Sharif Chaudhry, classificando os ataques como “uma provocação atroz”.
As autoridades indianas afirmaram que suas ações foram “pontuais, medidas e sem escalada” e garantiram que nenhuma instalação militar paquistanesa foi atingida.
“Recentemente, as Forças Armadas da Índia lançaram a ‘Operação Sindoor’, atingindo infraestruturas terroristas no Paquistão e na região de Jammu e Caxemira ocupada pelos paquistaneses, de onde vêm sendo planejados e conduzidos ataques terroristas contra a Índia”, informou o Exército indiano em nota oficial.
Ainda segundo o comunicado, “a Índia demonstrou grande moderação na escolha dos alvos e na forma de execução”. O ataque teria sido uma resposta ao brutal atentado em que dezenas de indianos foram mortos em Pahalgam, na Caxemira.
No perfil oficial das Forças Armadas indianas na rede social X (antigo Twitter), foram postadas as frases “A justiça foi feita” e “Jai Hind!” (“Vitória para a Índia!”), acompanhadas da hashtag #PahalgamTerrorAttack, em referência ao atentado ocorrido no fim de abril que deixou 26 mortos.
Era amplamente esperado que a Índia respondesse militarmente ao ataque, que teria sido cometido por integrantes do grupo Lashkar-e-Taiba, considerado uma organização terrorista pela ONU.
Nova Délhi responsabilizou Islamabad por apoiar o atentado, o que gerou uma série de ameaças e reações diplomáticas.
O Paquistão negou envolvimento e, desde 24 de abril, ambos os lados vêm trocando tiros noturnos ao longo da Linha de Controle — a fronteira de fato na região da Caxemira —, de acordo com o Exército indiano.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, declarou que o país “irá identificar, rastrear e punir todos os terroristas e seus patrocinadores” envolvidos no ataque em Pahalgam.
A polícia indiana emitiu cartazes de procurados com fotos de três suspeitos: dois paquistaneses e um indiano, que seriam integrantes do Lashkar-e-Taiba.
Em resposta, o Exército do Paquistão anunciou a realização de dois testes com mísseis nos últimos dias, incluindo um míssil terra-terra com alcance de 450 km — distância aproximada entre a fronteira paquistanesa e Nova Délhi.
Como medida preventiva, a Índia planeja realizar vários exercícios de defesa civil nesta quarta-feira para preparar a população contra possíveis ataques hostis.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, deve chegar a Nova Délhi ainda hoje. Ele esteve em Islamabad dois dias antes, em reunião com o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif. Teerã se ofereceu para mediar o conflito, e Araghchi será o primeiro diplomata estrangeiro de alto escalão a visitar os dois países desde o atentado de 22 de abril que agravou a crise bilateral.
Desde 1989, rebeldes na Caxemira indiana travam uma insurgência buscando a independência ou a anexação ao Paquistão. A Índia acusa frequentemente seu vizinho de apoiar os militantes armados por trás dessa luta.
Ato de guerra
Os ataques ocorreram poucas horas após o anúncio do primeiro-ministro Modi de que interromperia o fluxo de água que cruza a fronteira indiana em direção ao Paquistão. Islamabad alertou que interferir nos rios que fluem da Índia para o território paquistanês seria considerado um “ato de guerra”.
Embora Modi não tenha mencionado diretamente o Paquistão, seu discurso veio logo após a suspensão, por parte de Nova Délhi, da sua participação no Tratado das Águas do Indo, um acordo com mais de 65 anos que regula o uso da água essencial para o consumo e a agricultura no Paquistão.
“A água da Índia que antes fluía para fora agora fluirá para dentro do país”, afirmou Modi em discurso realizado em Nova Délhi.