O governo brasileiro se manifestou contra a recente decisão dos Estados Unidos de aplicar uma taxa de 25% sobre a importação de aço e alumínio, chamando a medida de “injustificável e equivocada”. O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) lamentou o impacto significativo que a taxação terá sobre as exportações brasileiras para os EUA, que em 2024 somaram US$ 3,2 bilhões. No entanto, o Brasil optou por não retaliar de imediato, conforme anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A tarifa foi imposta pela administração do presidente norte-americano, Donald Trump, como uma forma de proteger a indústria americana contra a “superprodução global” e práticas comerciais desleais. Haddad afirmou que o Brasil, seguindo a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manterá a calma neste momento e buscará uma solução por meio da negociação, sem recorrer a retaliações imediatas.
O ministro destacou que, embora a taxação tenha sido motivada por um diagnóstico errôneo de Trump, que acusou os fabricantes brasileiros de “revender” aço de forma desleal, o Brasil está trabalhando em propostas que serão analisadas e apresentadas aos Estados Unidos. Haddad também afirmou que negociações passadas, que envolveram situações semelhantes, resultaram em soluções benéficas para o comércio bilateral.
Além disso, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, informou que o vice-presidente Geraldo Alckmin terá reuniões na próxima sexta-feira com representantes do governo dos EUA para tentar reverter a decisão.
Em declarações mais recentes, o presidente Lula também comentou sobre a relação com o presidente Trump, sugerindo que a postura agressiva de Trump não intimidará o Brasil e que é preciso diálogo respeitoso entre os dois países.
Eis a íntegra da nota do Itamaraty:
O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 12 de março, de elevar para 25% as tarifas sobre importações de aço e de alumínio dos EUA provenientes de todos os países e de cancelar todos os arranjos vigentes relativos a quotas de importação desses produtos. Tais medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de US$ 3,2 bilhões.
Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países. Segundo os dados do governo estadunidense, os EUA mantêm um superávit comercial de longa data com o Brasil, que foi, em 2024, da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens.
No caso do aço, as indústrias do Brasil e dos Estados Unidos mantêm, há décadas, relação de complementaridade mutuamente benéfica. O Brasil é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (US$ 1,2 bilhão) e o maior exportador de aço semi-acabado para aquele país (US$ 2,2 bilhões, 60% do total das importações dos EUA), insumo essencial para a própria indústria siderúrgica norte-americana.
À luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras, o governo do Brasil buscará, em coordenação com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos. Em reuniões já previstas para as próximas semanas, avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior, com vistas a contrarrestar os efeitos nocivos das medidas norte-americanas, bem como defender os legítimos interesses nacionais, inclusive junto à Organização Mundial do Comércio.