Um dos nomes mais temidos da criminalidade no Rio de Janeiro e integrante da facção criminosa Comando Vermelho (CV), Alexander de Jesus Carlos, o Choque, chefe do tráfico em Manguinhos e ex-foragido mais procurado do estado, foi submetido a uma cirurgia de vesícula no Hospital Samaritano, em Botafogo — uma das unidades mais caras e sofisticadas da capital. O custo do procedimento ultrapassou R$ 24 mil.
A internação, autorizada pela Vara de Execuções Penais, levantou um questionamento sobre a possibilidade de detentos cumprirem tratamento médico em instituições particulares. Embora previsto na Lei de Execução Penal, o deslocamento para hospitais de alto padrão é considerado medida excepcional, utilizada quando não há condições adequadas no sistema prisional ou na rede pública.
O quarto ocupado pelo traficante no hospital incluía TV, ar-condicionado com controle automatizado, poltronas massageadoras, frigobar, enxoval e atendimento bilíngue — um contraste absoluto com as celas do presídio Gabriel Ferreira Castilho, onde ele estava detido até a saída para a cirurgia.
Antes de ser transferido para o hospital particular, Carlos passou por diversos atendimentos no ambulatório do presídio. Apenas em maio, foi encaminhado a uma UPA pelo menos quatro vezes, queixando-se de dores ao urinar e fortes dores abdominais. Em 11 de junho, durante fiscalização no presídio, um juiz do Gabinete de Execuções Penais registrou em despacho que o detento afirmava ter pedra na vesícula.
No dia 25 de julho, o mesmo juiz comunicou que o procedimento já estava agendado e que o Ministério Público havia se posicionado favoravelmente à transferência temporária. Ele solicitou que a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) fosse avisada com urgência para organizar a escolta e providências necessárias no Hospital Samaritano, em Botafogo. A saída ao hospital ocorreu em 8 de agosto.
Escoltado por policiais penais durante todo o trajeto e permanência, Choque, porém, permanece no hospital, em uma estadia que já dura mais tempo do que o previsto inicialmente – que era de apenas um dia – após, segundo sua defesa, ter complicações que levaram a um segundo procedimento cirúrgico.
O caso ganhou novos contornos na última segunda-feira (11), quando o juiz titular da Vara de Execuções Penais revogou a gratuidade de justiça do preso, benefício que o isentava de custos processuais. A decisão foi baseada nas informações de que a cirurgia e a estadia hospitalar envolviam despesas elevadas.
O Tribunal de Justiça do RJ disse que a Vara de Execuções Penais oficializou pedido ao hospital para esclarecer o quadro clínico e justificar a permanência de Choque. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), por sua vez, confirmou que o preso segue sob escolta e retornará ao presídio após liberação médica.
Já o Hospital Samaritano alegou que não pode fornecer informações por conta da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).