Nova York se tornou o centro de um novo esforço diplomático nesta segunda-feira (22), com dezenas de líderes mundiais reunidos em uma cúpula internacional. Convocada por França e Arábia Saudita, a reunião busca promover o reconhecimento do Estado palestino e reativar a solução de dois Estados. O evento acontece na véspera da Assembleia Geral da ONU, com a ausência de Israel e Estados Unidos, que boicotaram o encontro.
O principal objetivo da cúpula é duplo: consolidar o apoio internacional para a criação de um Estado palestino independente e definir um plano para uma solução negociada para o conflito. A França, liderada pelo presidente Emmanuel Macron, pretende conduzir o processo após anunciar em julho que reconhecerá a Palestina. A Arábia Saudita, representada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, coorganiza o evento. No entanto, ambos os líderes participarão por videoconferência.
Entre os presentes estão representantes do Reino Unido, Canadá, Austrália, Portugal e outros países que manifestaram apoio ao reconhecimento. A agenda prioriza o cessar-fogo em Gaza, a libertação de reféns e a entrada de ajuda humanitária. O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noel Barrot, afirmou que a Declaração de Nova York “não é uma promessa vaga para um futuro distante, mas um plano que começa com as prioridades principais”.
A reação de Israel e dos Estados Unidos à cúpula foi firme. O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, chamou o encontro de “circo” e disse que “não acreditamos que seja útil. Na verdade, pensamos que está premiando o terrorismo”. Autoridades israelenses alertaram para possíveis retaliações, como a anexação de parte da Cisjordânia e sanções contra a França. Os EUA também avisaram sobre consequências para países que tomarem medidas contrárias a Israel, considerando esses esforços internacionais prejudiciais e meramente “manobras publicitárias”.
Em paralelo, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma declaração que estabelece passos “tangíveis, com prazos definidos e irreversíveis” em direção à solução de dois Estados, ao mesmo tempo que condena o Hamas e exige seu desarmamento. O documento, que servirá de base para as discussões da cúpula, é visto com ceticismo por Israel e EUA.
O movimento por reconhecimento ganhou força nos últimos dias. Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal anunciaram no domingo seu reconhecimento oficial da Palestina, e a expectativa é de que França e outros cinco países façam o mesmo durante a cúpula.
A opinião entre os palestinos sobre o impacto do reconhecimento é dividida. Em Gaza, a população demonstra ceticismo. Nabeel Jaber, um palestino desalojado, disse duvidar da eficácia da medida: “Acho que não haverá uma pressão real sobre Israel para que conceda os direitos aos palestinos”. No entanto, ele expressou a esperança de que o apoio de potências globais ajude a alcançar um cessar-fogo. Na Cisjordânia, a visão é mais otimista. Mohammed Abu Al Fahim, morador da região, considera a medida “uma vitória para os direitos históricos dos palestinos”.
A situação humanitária em Gaza e na Cisjordânia continua a se deteriorar. Segundo autoridades de saúde palestinas, a ofensiva militar israelense já causou a morte de mais de 65 mil palestinos, em sua maioria civis, e provocou o deslocamento em massa da população. A violência de colonos israelenses na Cisjordânia também se intensificou.
O papel da ONU será crucial nos próximos passos. A Assembleia Geral permitiu a participação do príncipe herdeiro saudita por videoconferência, e a declaração de Nova York servirá como base para as discussões sobre o futuro da região. O presidente palestino Mahmoud Abbas e outros funcionários não comparecerão pessoalmente devido à recusa de vistos pelos EUA, mas participarão por videochamada.
Enquanto a comunidade internacional discute medidas, a demanda dos palestinos é clara: que o reconhecimento se traduza em ações eficazes para a materialização do Estado palestino e a construção de uma paz duradoura.
Líderes mundiais se reúnem em Nova York para impulsionar o reconhecimento do Estado palestino
