O governo brasileiro convocou para a próxima segunda-feira (8) uma reunião virtual de líderes do Brics, articulada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meio ao aumento das tarifas de exportação aplicadas pelo governo dos Estados Unidos, que chegaram a 50% para produtos brasileiros e indianos.
Segundo integrantes do governo, a pauta oficial da videoconferência não será o tarifaço em si, mas é esperado que o tema seja abordado de forma indireta pelos líderes. Outros assuntos previstos incluem a crise do multilateralismo, as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, e a COP30.
A decisão sobre a data da reunião foi tomada após consultas diplomáticas aos demais países do bloco. Caso algum líder tenha conflito de agenda, é possível que seja representado por chanceleres ou enviados especiais.
Em julho, o Brics emitiu uma declaração indireta sobre o aumento de tarifas globais, sem mencionar explicitamente os Estados Unidos, alertando que “o aumento indiscriminado de tarifas” ameaça reduzir o comércio internacional e interromper cadeias de suprimentos. Na ocasião, os líderes defenderam a Organização Mundial do Comércio (OMC) como núcleo de um “sistema multilateral de comércio baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo, não discriminatório e consensual”.
O tarifaço dos EUA atingiu diversos países de forma diferenciada: o Brasil e a Índia receberam a sobretaxa máxima de 50%; a China, alvo inicial, teve o imposto reduzido para 30% e permanece em negociação; a África do Sul foi sobretaxada em 30%; outros países, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Egito, Irã e Rússia, receberam taxa mínima de 10%. A Indonésia fechou um acordo com os EUA de 19%.
Segundo diplomatas brasileiros, será improvável que a reunião do Brics resulte em uma declaração conjunta mais dura contra os EUA, já que decisões do bloco dependem de consenso entre os 11 membros. A estratégia adotada por Donald Trump, que dividiu os países caso a caso, dificultou uma reação uníssona em fóruns multilaterais.
O governo brasileiro espera que a reunião do dia 8 fortaleça o diálogo dentro do bloco, ainda que, na prática, o encontro provavelmente termine com uma reafirmação do compromisso com o multilateralismo.
Entre os líderes do Brics, destacam-se o presidente da China, Xi Jinping; o premiê da Índia, Narendra Modi; e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que recentemente se reuniram em Tianjin, na China, para a cúpula da Organização para a Cooperação de Xangai. A participação do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, na China, reforça a aproximação diplomática do Brasil com países do bloco.