Em meio à votação considerada uma farsa eleitoral neste domingo (25), o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu que “ninguém meta o nariz” na disputa territorial com a Guiana pelo Essequibo — uma área de quase 160 mil quilômetros quadrados.
“Os esequibanos estão elegendo seus deputados nacionais pela primeira vez em 200 anos de luta. Estão escolhendo seu conselho legislativo e também seu governador ou governadora, tudo de forma pacífica, constitucional e legal. Por isso, que ninguém se intrometa nessa disputa histórica”, declarou Maduro após votar em Fuerte Tiuna, principal instalação militar de Caracas.
Maduro também atacou o presidente da Guiana, Irfaan Ali, a quem chamou de “empregado da ExxonMobil”, e afirmou que “mais cedo ou mais tarde” ele terá que sentar para negociar e “aceitar a soberania da Venezuela”.
Segundo o líder chavista, a votação realizada no recém-criado estado Guayana Esequiba, em duas paróquias do estado Bolívar (fronteira com o Brasil), representa um “exercício real de soberania”.
“A República Cooperativa da Guiana tem sido uma ocupante ilegal, herança do império britânico, que ocupou ilegalmente esse território e o destruiu. A mineração ilegal reduziu a pó a beleza, a biodiversidade e os rios da região”, afirmou.
Maduro garantiu que, com a eleição de um governador — com orçamento e apoio total — será possível recuperar a Guayana Esequiba para os cidadãos que vivem na área.
As paróquias Dalla Costa e San Isidro, ambas no estado Bolívar, foram designadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo regime chavista, para que 21.403 eleitores escolhessem, pela primeira vez, um governador para a região do Essequibo, além de oito deputados para a Assembleia Nacional e sete integrantes do conselho legislativo regional.
As áreas envolvidas são rurais, com estradas de terra e pavimentação precária.
O Essequibo é um território de 160 mil quilômetros quadrados, atualmente administrado pela Guiana, mas reivindicado pela Venezuela. A Guiana sustenta a validade do Laudo Arbitral de Paris, de 1899, que concedeu a soberania à então Guiana Britânica. O caso está sendo analisado pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), cuja jurisdição é reconhecida por Georgetown, mas rejeitada por Caracas.
Neste domingo, o candidato chavista ao governo da região, Neil Villamizar, afirmou que “não há tensão de nenhum tipo” na área, contrariando o presidente da Guiana, que no sábado havia dito que as forças armadas estão preparadas para “defender cada centímetro” do território guianense.
“A posição do governo guianense atende aos seus próprios interesses, mas a realidade é que não há qualquer tipo de tensão aqui”, disse Villamizar, após votar na paróquia Dalla Costa, no estado Bolívar.
Ele acrescentou que, na comunidade de San Martín de Turumbán, às margens do rio Cuyuni, na fronteira com a Guiana, os moradores “estão aproveitando o dia com música, alegria e em família”.
Por outro lado, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, visitou no sábado tropas das Forças de Defesa na aldeia de Anna Regina, na região do Essequibo, e reforçou o compromisso com a defesa da soberania nacional.
Ali, que almoçou com soldados e moradores da comunidade de Lima Sand na véspera da votação considerada fraudulenta, declarou: “Aqueles que querem nos ameaçar, que se tornam ambiciosos, devem saber que nossas tropas na linha de frente estão prontas para defender cada centímetro do nosso país, sob quaisquer circunstâncias e desafios”.