Mafioso italiano decide delatar segredos do PCC e do CV; entenda

O mafioso Vincenzo Pasquino, que foi preso no Brasil, contou às autoridades italianas segredos das facções criminosas brasileiras Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Ele assinou acordo de colaboração com a Justiça do país europeu.

Pasquino, de 34 anos de idade, ocupava um posto de liderança na máfia ‘Ndrangheta, da Calábria. O grupo criminoso é considerado o maior da Itália.

Vincenzo é apontado como o maior intermediário do tráfico de cocaína da América do Sul para as ndrine, como são chamados os clãs mafiosos da ‘Ndrangheta. Agora, além de entregar informações sobre o PCC e o CV, ele falará sobre três poderosas famílias de sua organização.

Foi durante seus interrogatórios, em novembro e em dezembro de 2023, na Penitenciária Federal de Brasília, que o mafioso admitiu pela primeira vez seu envolvimento com as atividades criminosas da ‘Ndrangheta, inclusive no Brasil.

Em um documento acessado pelo Estadão, de quem são as informações, um procurador destacou que “o senhor Pasquino decidiu-se pelo caminho da colaboração com a Justiça, dando declarações e confissões que, já no estado atual (no início das conversas), parecem relevantes também para investigações reservadas à jurisdição da República do Brasil, referindo-se ao tráfico internacional de entorpecentes organizado por grupos criminosos brasileiros ligados ao Primeiro Comando da Capital e ao Comando Vermelho”.

O italiano disse aos procuradores que era integrante da ‘Ndrangheta desde 2011. Disse que era um “analfabeto” quando se ligou à ndrina Agresta de Volpiano, que atua no Piemonte, norte da Itália.

Ele nasceu em Turim, Piemonte. Ali, se ligou aos albaneses, os quais reencontraria no Brasil, como Leart Gjimaraj, que havia sido preso com 15 quilos de cocaína e de maconha em 2014, escondidos em uma garagem em Turim.

O mafioso italiano veio para o Brasil em 2017. Ele ia trabalhar com o envio de drogas para a Itália e se estabeleceu primeiro no Paraná. Depois, em 2019, o criminoso se mudou para São Paulo e escolheu a região do Tatuapé, na Zona Leste, para se estabelecer.

No Tatuapé, está boa parte da liderança da Sintonia do Tomate, o tráfico transatlântico do PCC, comprou dezenas de imóveis e levava vida de luxo. Sua mulher, Morena Maggiore, é filha de um importante mafioso da Sicília.

Morena fazia compras sempre acompanhada de um segurança. Dessa forma, ela acabou sendo surpreendida por investigadores da 4ª Delegacia doDepartamento Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc).

– Nosso alvo era o Rocco Morabito. Tentávamos chegar até ele e fomos aos poucos identificando essa rede de contatos – disse o delegado Fernando Santiago, do Denarc.

Morabito foi extraditado em 2022, e Pasquino dois anos depois, por ordem da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na Itália, Vincenzo foi interrogado por dois procuradores. A eles, o mafioso admitiu todos os fatos que lhe “foram imputados” e relatou as regras da máfia para o uso do porto de Gioia Tauro, principal terminal de contêineres do Mediterrâneo.

Um documento mostra que Pasquino revelou informações que envolvem “perigosas famílias da ‘Ndrangheta originárias de San Luca e Plati (Reggio Calábria), Volpiano (Turim) e Guardavalle (Catanzaro)”, assim como o tráfico pelos portos de Santos (SP), Paranaguá (PR) e João Pessoa (PB). Ele prometeu ainda entregar aos procuradores italianos o mapa das principais rotas internacionais da droga e seus contatos com os narcotraficantes turcos e operadores chineses ligados à lavagem de dinheiro, além de novos detalhes de seus amigos do PCC.


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