Na última terça-feira (12/4), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu as operações da Voepass, companhia aérea que ficou tristemente famosa diante do trágico acidente de um avião ATR-72-500, em 9 de agosto. A aeronave caiu em Vinhedo, cidade a 80 km de São Paulo, e causou a morte de 62 pessoas.
Menos de um mês depois do acidente, o Centro de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) revelou em um relatório preliminar que, durante o voo fatal, havia muita formação de gelo nas asas do avião — algo comum na altitude em que os ATR voam.
No entanto, a aeronave não desceu para derreter o gelo, como é recomendado, e os sistemas responsáveis por expulsar o gelo das asas falharam. Com a estabilidade muito comprometida, a aeronave perdeu sustentação
A queda foi uma das poucas da história da aviação comercial que aconteceram devido ao que se chama “parafuso chato”, em que a aeronave gira enquanto perde altitude.
Um mecânico que trabalhou na Voepass antes e depois do acidente, em entrevista à emissora Rede Globo, explica como foi possível que vários problemas se acumulassem a ponto de causar o acidente e os bastidores das operações da Voepass.
O mecânico, que permaneceu anônimo na entrevista divulgada ao público, neste domingo, 16, já havia trabalhado em várias outras empresas. Ele disse que o diferencial da Voepass é que ela não dá nenhum tipo de suporte aos profissionais para a manutenção.
“Não só de materiais, de componentes que vão ser postos nos aviões, colocados para manutenção, como ferramentas, tudo”, diz o mecânico. “Passei por grandes empresas, empresas boas, empresas excelentes, quando chegamos à Voepass, a gente sente uma diferença muito grande.”
Quando soube da queda do avião em Vinhedo, ele não ficou surpreso. “Eu já sabia que ia acontecer isso”, pois a aeronave era a que “dava mais problemas, era o avião que dava mais pane”. O mecânico e os colegas de equipe alertavam sobre o estado do avião antes do acidente.
“A gente avisava que o avião estava ruim, a manutenção sabia que o avião estava ruim, a manutenção reportava, falava, avisava, e eles queriam obrigar a gente a botar o avião para voar”, disse ele à Rede Globo, em referência à alta chefia do centro de controle de manutenção da Voepass.
Mesmo depois da tragédia, a Voepass manteve o descaso com a manutenção dos aviões. “Se você me perguntar, ‘poxa, mudou alguma coisa?’, mudou em nada”, afirma o mecânico. “Acho até que piorou.”