Ministra das Mulheres é alvo de denúncia por assédio e racismo

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, foi alvo de denúncias formais de ex-servidoras de sua equipe. Ela é acusada de suposta prática de assédio moral e xenofobia no Ministério. A reportagem é do jornal O Estado de S.Paulo.

Segundo o jornal, os relatos foram enviados para apuração de dois órgãos federais: a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República.

O Estadão teve acesso ao conteúdo de cinco denúncias formais, inclusive dossiês escritos e três gravações de reuniões internas feitas pelas denunciantes e entregues à CGU e à Comissão de Ética.

Além da ministra, foram apresentadas acusações contra a secretária-executiva do ministério, Maria Helena Guarezi, a corregedora interna, Dyleny Teixeira Alves da Silva, e a ex-diretora de Articulação Institucional Carla Ramos.

Os relatos envolvem ameaças de demissão a servidoras, cobrança de trabalho em prazo exíguo, tratamento hostil, manifestações de preconceito e gritos. As condutas podem configurar assédio moral.

Cida e Maria Helena são próximas e têm apoio político da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. O assunto vem sendo tratado com discrição no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ministra continua no cargo e não fez mudanças na equipe.

De acordo com relato das ex-servidoras, Maria Helena Guarezi, segunda na hierarquia do ministério, teria cometido racismo em uma reunião. Já Carla Ramos é acusada de gritar com subordinadas. A corregedora Dyleny da Silva, na avaliação das denunciantes, teria se omitido na apuração das acusações de assédio.


Procurada pelo Estadão, a CGU disse que a acusação à ministra, que veio acompanhada de gravações, foi remetida à Comissão de Ética e que arquivou denúncias contra as demais servidoras por falta de “elementos que indicassem possíveis infrações disciplinares”. O Ministério das Mulheres afirmou que as queixas não possuem “elementos concretos”.

O caso de Cida Gonçalves é o segundo de um ministro denunciado por assédio no governo Lula nos últimos meses. O primeiro foi então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, acusado de assédio moral e sexual. Ele foi demitido do cargo depois de vir a público a informação de que ele teria abusado de uma colega de Esplanada, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ela confirmou, embora ele negue.

As denunciantes dizem que as hostilidades começaram a partir de um desentendimento entre a ministra e a então secretária nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política, Carmem Foro.

Sindicalista do Pará e petista, Carmem não foi uma escolha da cota pessoal da ministra. Indicação partidária do PT, chegou ao posto com suporte político da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

Carmen Foro foi exonerada no dia 9 de agosto do ano passado. Três dias depois, a ministra convocou uma reunião com os cerca de 30 servidores da área. As denunciantes, que estavam nesse encontro, relatam ter ouvido frases da ministra que foram entendidas como ameaça.

Logo no início, a ministra justificou que a ex-secretária Carmen Foro, embora reconhecida liderança social, não era “boa gestora” e que atuava mais como “candidata” no Pará, com viés local, do que como “secretária nacional”. E afirmou que no seu ministério a hierarquia tinha que ser respeitada.

“A gente não está no movimento social”, disse Cida, na gravação. “Até no movimento social tem hierarquia. E nós estamos no Ministério das Mulheres. Aqui tem hierarquia. Eu não posso afrontar o presidente, e nenhuma secretária pode me afrontar. Pode discordar, é diferente. E se vocês acham que eu não sei o que aconteceu nos corredores, eu sei. Cara, eu sei tudo.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

x