Moraes manda segurança pegar celular de advogado em audiência

Durante a acareação entre Mauro Cid e o coronel da reserva Marcelo Câmara no Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira, 13, o ministro Alexandre de Moraes interrompeu a sessão para mandar verificar o celular do advogado Marcus Vinicius de Camargo Figueiredo. A audiência foi solicitada pela defesa do coronel.


Moraes deu a ordem ao suspeitar que Figueiredo, defensor do general da reserva Mário Fernandes, poderia estar gravando, o que seria contrário à sua proibição de registros em áudio ou vídeo. O ministro mandou que um segurança fizesse a verificação do aparelho.

Fontes presentes na audiência relataram ao jornal Folha de S.Paulo que Figueiredo se manifestou quando Cid e Câmara mencionaram Mário Fernandes como autor do chamado plano Punhal Verde e Amarelo. O advogado tentou apresentar uma questão de ordem para questionar a relação entre o monitoramento de Moraes e o suposto plano.

O tenente-coronel Mauro Cid, uma das testemunhas do julgamento sobre o suposto golpe de 8 de janeiro de 2023: respostas favorecem Bolsonaro, avalia Guzzo | Foto: Ton Molina/STF
O tenente-coronel Mauro Cid, uma das testemunhas do julgamento sobre o suposto golpe de 8 de janeiro de 2023 | Foto: Ton Molina/STF

Moraes recusou o pedido, sob o argumento de que não era o momento para perguntas da defesa. Em seguida, afirmou que Figueiredo não deveria participar da sessão. O advogado entregou o celular, informou a senha e exigiu respeito ao ministro, que respondeu pedindo reciprocidade.

No encerramento da acareação, Moraes determinou que a negativa à questão de ordem fosse registrada em ata. Figueiredo deixou o local sem fazer declarações. Tanto o ministro quanto o advogado preferiram não comentar o episódio, segundo a assessoria do STF.


Mário Fernandes, ex-assessor no Planalto durante o governo de Jair Bolsonaro, está preso, acusado de ser o responsável pelo plano Punhal Verde e Amarelo, que que supostamente previa assassinar Moraes, Lula e Geraldo Alckmin. Ele nega qualquer iniciativa para executar as ações e afirma que o plano era apenas um “pensamento digitalizado”.

O então Comandante de Operações Especiais, General-de-Brigada Mário Fernandes, em Goiânia, GO (26/7/2019) | Foto: Isac Nóbrega/PR

Depois da acareação, a defesa de Marcelo Câmara declarou que o monitoramento de Moraes, em 2022, teria sido uma ordem de Bolsonaro. O advogado Luiz Eduardo Kuntz afirmou que “a defesa do réu Marcelo Câmara solicitou que fosse esclarecido que, em relação ao segundo monitoramento no final de dezembro, não há nenhuma relação com a citada operação ‘Punhal Verde e Amarelo’”.

Cid e Câmara depõem sobre monitoramento de Moraes

Mauro Cid relatou ter recebido dois pedidos de monitoramento de Moraes: o primeiro, entre 16 e 22 de dezembro de 2022, teria partido do major Rafael de Oliveira, apontado pela Procuradoria-Geral da República como um dos idealizadores do plano. O segundo pedido teria vindo de Bolsonaro, que suspeitava de reuniões entre Moraes e Hamilton Mourão em São Paulo.

Questionado se Câmara sabia a origem dos pedidos, Cid declarou que não podia afirmar, mas admitiu a possibilidade de o coronel estar ciente do segundo pedido, diretamente relacionado ao ex-presidente. “Porque a segunda [ordem de monitoramento] tinha a ver diretamente com o presidente. O que ia acontecer com o presidente, possivelmente, o coronel Câmara estava sabendo”, afirmou Cid na audiência.

marcelo câmara
O coronel Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro | Foto: reprodução redes sociais

Câmara negou o monitoramento de Moraes ou uso ilícito de informações e explicou que apenas respondeu a perguntas feitas por Cid. O ex-ajudante de ordens também disse não saber se Câmara conhecia o plano Punhal Verde e Amarelo ou teve contato com a suposta “minuta do golpe”, que teria sido apresentada a Bolsonaro por Filipe Martins, ex-assessor internacional da Presidência.

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