Na Câmara, Kataguiri e deputada do PSOL protagonizam briga

Um desentendimento entre a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) e o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP) causou tumulto no Plenário da Câmara dos Deputados durante a votação que aprovou a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental, na madrugada desta quinta-feira (17).

Na ocasião, os deputados aprovaram o projeto por 267 votos a 116. O estopim da discussão ocorreu às 2h30 da madrugada, quando Xakriabá reclamou de declarações de Kataguiri sobre indígenas.


Momentos antes, na tribuna, Kataguiri havia afirmado que “tribos indígenas” teriam sido beneficiadas com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que fica em Vitória do Xingu, no Pará, por, segundo ele, terem recebido um aporte de R$ 5 milhões.

– R$ 5 milhões na conta de cada tribo. Aí, eu também quero que abra uma hidrelétrica do lado de casa. Por que, me explica, como é que transformar tribo indígena em latifúndio ajuda a compensar impacto ambiental? Não ajuda, gente, isso é dinheiro indo para o bolso dessas pessoas – declarou.

Em resposta, Xakriabá usou as expressões “deputado estrangeiro” e “deputado reborn” no microfone para se referir a Kataguiri.

– Primeiro, essa pessoa, deputado estrangeiro, esse deputado reborn que acabou de falar, sequer tem o direito de falar da questão indígena. Ianomâmi não pode ser tratado como um caso despercebido. O senhor fica quieto. O senhor é estrangeiro aqui, tinha de pedir perdão para os povos indígenas – disse.

Em seguida, Kataguiri se referiu à deputada como “cosplay”, termo utilizado para pessoas que se fantasiam de um personagem.

– Determinada deputada me chamou de deputado estrangeiro. E eu quero dizer aqui que estrangeiro, e ali próximo de onde estão meus ancestrais, é o pavão, que é um animal lá da Ásia. Não tem nada a ver com tribo indígena aqui no Brasil, mas tem gente que parece que gosta de fazer cosplay – disse.

Pouco depois, foi a vez do deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) se colocar na discussão.

– Já que o assunto é o pavão misterioso, nós queremos saber do licenciamento ambiental do pavão aqui presente. Nossa! Se para abrir uma estrada, para abrir um empreendimento, é preciso licenciamento, para abater um animal também precisa de licenciamento – disse.

Xakriabá então voltou ao microfone e disse que as referências ao seu cocar configuravam “um racismo televisionado” e afirmou que tomaria “as medidas necessárias”. Na sequência, o microfone foi desativado, e o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) prosseguiu com a votação.

A deputada, então, continuou a protestar e foi em direção a Kataguiri. Os dois bateram boca, e a Polícia Legislativa precisou intervir.

A deputada psolista não quis se pronunciar à imprensa. Kataguiri, por sua vez, disse à reportagem que a acusação de racismo “não tem o menor sentido, porque ela me chamou de deputado estrangeiro”. O parlamentar é brasileiro e descendente de japoneses.

Ao fim da votação, Motta lamentou o ocorrido. Questionado pela imprensa se tomará alguma providência em relação à queixa de racismo, o presidente da Câmara disse que iria analisar.

A aprovação da nova lei de licenciamento ocorreu a contragosto do Ministério do Meio Ambiente. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), por sinal, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetará o projeto.

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