Em 4 de março, a defesa da ex-professora Iraci Nagoshi comemorou a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para remover a tornozeleira, a fim de a aposentada fazer uma cirurgia delicada, em virtude de uma queda em que quebrou o fêmur esquerdo quatro dias antes.
O advogado Jaysson França contudo, foi surpreendido ao saber que horas depois, naquela mesmo data, o STF condenara a idosa de 71 anos a passar os próximos 14 de sua vida na cadeia, por cinco crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa. Iraci terá ainda de pagar cem dias-multa, cada dia-multa no valor de um terço do salário mínimo.
Em menos de 24 horas depois da cirurgia bem-sucedida, agentes do Centro de Detenção Provisória de Santo André (SP) foram à unidade de saúde recolocar o equipamento na mulher, relatou o consultor de empresas Newton Nagoshi, um dos filhos de Iraci, que luta contra um câncer desde 2019.
A família preferiu ocultar de Iraci a sentença que ela recebera, com receio de interferir no procedimento médico que ocorreria dali a três dias. Apenas no domingo 17 é que Iraci soube do veredito do STF. “Ela já esperava”, disse Nagoshi a Oeste “Pois é o que está acontecendo com todos os presos”.
Quem é Iraci Nagoshi
Moradora de São Caetano do Sul (SP), Iraci é ex-professora de português e diretora aposentada. A idosa fïcou oito meses detida na Colmeia. Desde agosto, ela usa tornozeleira.
Um dia antes do 8 de janeiro, Iraci pegou um ônibus com um grupo de pessoas e viajou a Brasília. No dia do protesto, ela estava na Praça dos Três Poderes e entrou no Palácio do Planalto. O advogado sustentou que ela o fez para se refugiar das bombas de efeito moral que a polícia jogou e que não cometeu vandalismo.
Segundo a defesa, nas primeiras semanas em que ficou detida, Iraci teve de dividir uma cela pequena com mais de dez pessoas, além de tomar banhos frios e se alimentar mal.
Iraci tem ainda transtornos passivos, diabetes hipertireoidismo e dislipidemia. Após conseguir a liberdade condicional, teve uma paralisia em um dos lados do rosto, que precisou de tratamento.
*Informação Revista Oeste