O Ministério Público de São Paulo (MPSP), a Receita Federal e a Polícia Militar deflagraram, na manhã desta quinta-feira (25), a Operação Spare, que tem como alvo o esquema de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal do Primeiro Comando da Capital (PCC) nos setores de combustíveis e jogos de azar. Ao todo, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em seis cidades paulistas: São Paulo (19), Santo André (2), além de Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco.
A ação é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que revelou o uso de fintechs da Faria Lima pelo PCC para movimentar recursos ilícitos. Segundo a Receita Federal, o grupo criminoso utilizava postos de combustíveis, motéis, empreendimentos imobiliários e redes de franquias para ocultar patrimônio e lavar dinheiro.
Os números revelam a dimensão do esquema: entre 2020 e 2024, 267 postos de combustíveis movimentaram mais de R$ 4,5 bilhões, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais — apenas 0,1% do faturamento. Administradoras de postos ligadas ao grupo movimentaram outros R$ 540 milhões.
Além disso, mais de 60 motéis foram identificados em nome de laranjas, com movimentação de R$ 450 milhões no período. Só um deles distribuiu 64% da receita bruta declarada como lucro. Também foram detectadas irregularidades em redes de franquias, que movimentaram R$ 1 bilhão, mas emitiram notas fiscais de apenas R$ 550 milhões.
Com o dinheiro obtido, os investigados investiram em bens de luxo, incluindo um iate de 23 metros, dois helicópteros, um Lamborghini Urus e imóveis avaliados em dezenas de milhões de reais. Segundo a Receita, os bens apreendidos representam apenas 10% do patrimônio real do grupo.
As investigações começaram após a apreensão de máquinas de cartão em casas de jogos clandestinos em Santos (SP), que estavam ligadas a postos de combustíveis. A análise mostrou que os valores eram transferidos para fintechs que mascaravam a origem ilícita dos recursos.
O MPSP destacou ainda que a operação atual deveria ter ocorrido junto à Carbono Oculto, mas precisou ser adiada após indeferimento inicial das medidas cautelares pela Justiça de 1ª instância. A autorização só foi concedida pelo Tribunal de Justiça após recurso.
Segundo os investigadores, o principal alvo da operação formalmente controlava cerca de 400 postos de combustíveis, além de atuar em franquias, motéis e empreendimentos imobiliários, movimentando centenas de milhões de reais por meio de sociedades em conta de participação (SCPs).
As apurações também encontraram conexões com alvos de outras operações contra o crime organizado, como a Rei do Crime e a própria Carbono Oculto, incluindo uso compartilhado de helicópteros, negócios imobiliários e viagens internacionais em conjunto.
Para a Receita Federal, o caso expõe a sofisticação do PCC em expandir suas atividades ilícitas para setores da economia formal. “A utilização de estruturas empresariais e financeiras regulares é uma tentativa de introduzir na economia recursos de origem ilícita, causando graves prejuízos ao Estado e à sociedade”, afirmou o órgão em nota.