A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) publicou uma nota classificando como “ultrajantes” as declarações do ex-ministro da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu (PT), em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Na entrevista, divulgada no domingo, 22 de setembro, Dirceu afirmou que o conflito na Faixa de Gaza representa um “genocídio” contra os palestinos e que a população do enclave tem o direito sagrado de se levantar em armas contra a ocupação de Israel.
A Fisesp questionou até quando atos de terrorismo contra judeus ao redor do mundo serão relativizados por figuras políticas do Brasil, em clara referência à fala de Dirceu.
O ex-ministro concordou com a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a existência de genocídio na Faixa de Gaza, afirmando que o que ocorreu e continua ocorrendo lá é uma guerra de extermínio.
Dirceu também reforçou que o povo palestino tem o direito sagrado de se insurgir armadamente contra a ocupação israelense.
Em resposta ao questionamento sobre a morte de civis inocentes no ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, José Dirceu declarou que tais atos devem ser condenados, e ressaltou que todos os crimes de guerra precisam ser criticados.
O petista ainda afirmou que, apesar do atentado do Hamas, isso não significa apoio automático às políticas atuais de Israel, ressaltando que nem os Estados Unidos, principais financiadores do país, concordam com as ações conduzidas pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
A Fisesp classificou as falas de Dirceu como “ultrajantes”. De acordo com a organização, a declaração do petista “busca a legitimação do maior atentado terrorista da história israelense, no qual mais de 1.200 pessoas foram brutalmente assassinadas por integrantes do Hamas, que invadiram o sul de Israel e atiraram sem distinção contra homens, mulheres, crianças, idosos e bebês”.
A federação israelita afirmou que Dirceu está “omitindo deliberadamente informações históricas cruciais” e, entre outras coisas, confundindo “o povo palestino com o grupo terrorista Hamas”.
“[Dirceu] ignorou sumariamente o fato de que Israel não ocupa a Faixa de Gaza há quase 20 anos, oportunidade em que deixou o território para que o povo palestino pudesse decidir seu próprio futuro, sonho que acabou sendo apropriado por radicais que se recusam a aceitar a existência do país vizinho”.
A Fisesp citou fala de Dirceu de que “nunca teve antissemitismo” no Brasil: “Nós, judeus brasileiros, adoraríamos viver no país representado no imaginário do ex-ministro”, declarou a organização.
“Mas sabemos a realidade, vivemos a realidade e, justamente por isso, continuaremos agindo para modificá-la. Certamente não serão aqueles que buscam legitimar a ação criminosa do Hamas que definirão, à revelia da comunidade judaica, o que é antissemitismo”, completou a entidade.
Leia a íntegra da nota da Fisesp sobre Dirceu:
“Na data de hoje [22.set.2024], o ex-ministro José Dirceu, em entrevista à ‘Folha de S. Paulo’, afirmou que ‘o povo palestino’ tem o direito ‘sagrado’ de ‘se levantar em armas contra a ocupação de Israel’. Uma afirmação ultrajante, que busca a legitimação do maior atentado terrorista da história israelense, no qual mais de 1200 pessoas foram brutalmente assassinadas por integrantes do Hamas, que invadiram o sul de Israel e atiraram sem distinção contra homens, mulheres, crianças, idosos e bebês. “A Federação Israelita do Estado de São Paulo vem, novamente, questionar publicamente até quando atos de terrorismo contra judeus mundo afora serão relativizados por personalidades da política nacional brasileira? “Omitindo deliberadamente informações históricas cruciais, José Dirceu, em uma única entrevista, confundiu o povo palestino com o grupo terrorista Hamas; silenciou a respeito da utilização de violência sexual contra mulheres israelenses como instrumento de guerra; nada disse sobre os mais de 250 reféns de diversas nacionalidades que foram sequestrados, dos quais apenas 101 continuam sob poder dos terroristas do Hamas; e ignorou sumariamente o fato de que Israel não ocupa a Faixa de Gaza há quase 20 anos, oportunidade em que deixou o território para que o povo palestino pudesse decidir seu próprio futuro, sonho que acabou sendo apropriado por radicais que se recusam a aceitar a existência do país vizinho. “Em outra passagem marcante da entrevista, Dirceu afirmou que ‘no Brasil nunca teve antissemitismo’. Nós, judeus brasileiros, adoraríamos viver no país representado no imaginário do ex-ministro. Mas sabemos a realidade, vivemos a realidade e, justamente por isso, continuaremos agindo para modificá-la. Certamente não serão aqueles que buscam legitimar a ação criminosa do Hamas que definirão, à revelia da comunidade judaica, o que é antissemitismo.”