Rússia reafirma cooperação nuclear com Irã

A Rússia reafirmou nesta quinta-feira (26) que manterá sua cooperação com o Irã no desenvolvimento de seu programa nuclear para “fins pacíficos” e condenou os recentes ataques a instalações nucleares iranianas, atribuídos aos Estados Unidos e a Israel.

Durante uma coletiva de imprensa em Moscou, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, defendeu a legitimidade dessa cooperação e criticou o que chamou de ofensiva injustificada por parte de Washington para “limitar os direitos legítimos” de Teerã.

Zakharova afirmou que a parceria entre os dois países na área nuclear “nunca foi questionada por ninguém” e que, inclusive, conta com a aprovação de “organismos especializados do sistema das Nações Unidas”.

A porta-voz também destacou que a Rússia não apenas mantém seu compromisso técnico com o Irã, como espera que essa cooperação seja intensificada ao longo de 2025, conforme os acordos bilaterais já firmados.

Apoio russo em meio à tensão internacional
As declarações de Moscou ocorrem em um momento de alta tensão internacional. Recentemente, o Irã suspendeu sua cooperação com o Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA), o que gerou críticas por parte de potências ocidentais. A Rússia, no entanto, apoiou a decisão iraniana.

De acordo com Zakharova, Teerã reagiu a “circunstâncias extraordinárias”, referindo-se aos bombardeios contra suas instalações nucleares que teriam provocado, inclusive, a morte de técnicos civis.

“A reputação da agência [OIEA] foi gravemente comprometida”, afirmou a porta-voz, sugerindo que a atuação do órgão nesta nova fase do conflito tem sido parcial e pouco transparente. Segundo ela, os ataques afetaram não apenas a cooperação técnica, mas também a capacidade de verificação do OIEA, que é um dos pilares do acordo nuclear de 2015.

Irã em foco na próxima cúpula do BRICS
As declarações da Rússia também ganham relevância diante da aproximação da cúpula do BRICS, marcada para julho. Recentemente incorporado ao grupo, o Irã vem ganhando destaque no bloco que reúne potências emergentes.

A presença iraniana tem gerado apreensão entre alguns membros do BRICS, especialmente em um momento de intensificação das tensões geopolíticas, com os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin ainda avaliando participação presencial no encontro.

A escalada da guerra em Gaza, os bombardeios na Síria e no Iraque e os episódios de sabotagem em território iraniano aumentaram o temor de um possível transbordamento regional. Nesse contexto, Moscou busca consolidar sua aliança com Teerã não apenas como uma resposta às sanções ocidentais, mas também como parte de sua estratégia de fortalecimento no Oriente Médio.

Zakharova não poupou críticas a Estados Unidos e Israel, acusando ambos de agir de forma “irresponsável” ao atacarem diretamente instalações ligadas ao programa nuclear iraniano. “Esperamos que os graves danos causados pelos bombardeios dos EUA e de Israel à cooperação entre Irã e OIEA possam ser reparados com o tempo”, afirmou.

Ela também apelou à comunidade internacional para que “evite julgamentos precipitados e oportunistas” sobre a decisão do Irã de suspender a cooperação técnica com a agência nuclear.

Por fim, Zakharova destacou: “O mais importante agora é garantir a Teerã que nem suas instalações nem seu pessoal voltarão a ser atacados”. A declaração reforça a preocupação com uma escalada militar e se insere na narrativa russa de que as agressões ao Irã fazem parte de uma campanha mais ampla para desestabilizar países que desafiam a ordem internacional liderada pelo Ocidente


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