A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou nesta quinta-feira (3) a lei de impostos e gastos emblemática do presidente Donald Trump, com 218 votos favoráveis e 214 contrários. A aprovação ocorre cerca de seis meses após o início do segundo mandato do presidente.
A votação foi precedida por um longo discurso do líder democrata Hakeem Jeffries, que se manifestou contra o projeto por mais de oito horas, estabelecendo um recorde de fala na Câmara. O presidente da Câmara, Mike Johnson, expressou otimismo com a aprovação, destacando cortes fiscais e aumento de recursos para segurança na fronteira como pontos principais da legislação.
O texto, que deve ser sancionado por Trump em 4 de julho, estende cortes de impostos implementados durante seu primeiro mandato. Para financiar parte dos cortes, a lei prevê reduções significativas no Medicaid — programa de saúde pública para populações de baixa renda e pessoas com deficiência — e em outros programas sociais. Também revoga créditos fiscais para energias limpas instituídos na administração anterior, aumenta o investimento militar e destina recursos adicionais a políticas migratórias mais rigorosas.
Especialistas financeiros manifestaram preocupação com o impacto da lei nas contas públicas, estimando que poderá elevar a dívida americana em mais de 3 trilhões de dólares no longo prazo. Parlamentares democratas alertaram para possíveis consequências negativas do orçamento aprovado. A legislação já havia recebido aprovação no Senado, com o voto decisivo da vice-presidente JD Vance.
O início do segundo mandato de Trump tem sido marcado por medidas como tarifas ampliadas, restrições à imigração e fortalecimento dos poderes do Executivo. No campo da política externa, o presidente autorizou ataques aéreos contra instalações no Irã, sem avanços significativos em acordos de paz na região de Gaza e na Ucrânia.
O pacote fiscal reflete a plataforma eleitoral de Trump para 2024, incluindo alívio fiscal para gorjetas e horas extras, apoio aos combustíveis fósseis e políticas migratórias restritivas. Para assegurar a aprovação, o presidente mobilizou sua base e articulou com parlamentares republicanos, embora tenha enfrentado oposição interna, incluindo do bilionário Elon Musk, que havia apoiado sua campanha.
A lei também prevê um aumento de 5 trilhões de dólares no teto da dívida federal, o maior já aprovado em uma única medida. Dois republicanos da Câmara votaram contra o projeto, enquanto todos os parlamentares democratas se posicionaram contrários, destacando preocupações com a distribuição dos benefícios fiscais e cortes em serviços sociais.
Analistas indicam que os cortes tributários podem impulsionar o crescimento econômico, mas também ressaltam que a principal consequência imediata será a suspensão do aumento automático de impostos previsto para 2026.
Desde o início do mandato, o índice do dólar americano tem apresentado queda gradual, refletindo a apreensão do mercado em relação ao déficit fiscal, embora o mercado de ações tenha se recuperado após perdas provocadas por políticas tarifárias anunciadas em abril.
A aprovação da lei configura o cenário político para as próximas eleições legislativas, com republicanos afirmando o cumprimento das promessas eleitorais e democratas criticando o impacto para as classes média e baixa.
Setores empresariais demonstram apoio majoritário à legislação, especialmente pela manutenção dos cortes fiscais, enquanto grupos ligados a energias renováveis e instituições de saúde pública manifestam preocupações quanto à redução de subsídios e recursos.