O governo da Ucrânia recebeu nesta quinta-feira um esboço de acordo dos Estados Unidos que busca pôr fim ao conflito armado iniciado com a invasão russa em 2022. A presidência ucraniana, comandada por Volodimir Zelensky, confirmou que está analisando os termos do plano e anunciou que, nos próximos dias, o presidente tratará do assunto em uma conversa direta com Donald Trump.
Embora Kiev não tenha detalhado as condições do acordo, fontes próximas às negociações indicam que a proposta diplomática dos EUA inclui exigências como a entrega de regiões atualmente ocupadas pela Rússia e a redução do potencial defensivo ucraniano.
Esses pontos geraram preocupação entre os parceiros da União Europeia, que temem que tais concessões deixem a Ucrânia vulnerável a uma eventual reofensiva russa.
Em comunicado, a presidência ucraniana ressaltou que qualquer acordo deve se basear nos “princípios fundamentais defendidos pelo povo da Ucrânia”, mas destacou a disposição de trabalhar de forma construtiva com os Estados Unidos, a União Europeia e outros aliados internacionais.
“O presidente espera discutir com Donald Trump as opções diplomáticas existentes e os requisitos-chave para alcançar a paz”, afirmou o gabinete de Zelensky.
A situação na Ucrânia tem se tornado cada vez mais difícil. Nos últimos dias, tropas russas consolidaram avanços no leste do país, enquanto continuam ataques aéreos e de mísseis sobre centros urbanos. Na quarta-feira, um bombardeio a um edifício residencial deixou pelo menos 26 mortos, segundo relatos ucranianos, e a ocupação parcial de Pokrovsk — cidade ferroviária estratégica — reflete a pressão sobre o exército de Kiev em múltiplas frentes.
Internamente, o governo de Zelensky enfrentou recentemente um escândalo de corrupção que resultou na destituição de dois ministros. Paralelamente, uma delegação militar americana, liderada pelo secretário do Exército, Dan Driscoll, e pelo chefe do Estado-Maior, Randy George, realizou conversas com o comandante militar ucraniano, Oleksandr Syrskyi.
Syrskyi enfatizou que uma paz duradoura depende da defesa do espaço aéreo, do fortalecimento da capacidade ofensiva e da manutenção do front diante da ameaça russa.
O movimento diplomático de Washington ocorre em meio a tensões com Moscou e a Europa. O Kremlin afirmou que não há negociações formais sobre a iniciativa americana e reiterou que qualquer avanço deverá atender às suas exigências de reconhecimento territorial e segurança. Por sua vez, a França, por meio de Jean-Noel Barrot, declarou que “a paz não pode passar pela capitulação” e que apenas uma solução baseada na soberania e na segurança da Ucrânia será aceitável.
Desde seu retorno à presidência, Trump prometeu pôr fim à guerra e tem mostrado mudanças na política americana. Recentemente, ele suspendeu uma cúpula com Vladimir Putin e aprovou sanções às principais petroleiras russas, enquanto exige que Kiev aceite condições que até pouco tempo pareceriam impensáveis para os aliados europeus.
O desfecho imediato das negociações depende tanto da resposta de Zelensky quanto da capacidade da diplomacia americana de construir consenso com os governos europeus e outros atores relevantes.
Enquanto isso, a situação humanitária segue deteriorando-se com a destruição de infraestrutura e a chegada do inverno. A ONU alerta para o aumento de deslocados e para a vulnerabilidade de milhões de pessoas diante da falta de eletricidade e serviços básicos devido aos ataques diários.
O futuro do plano dependerá da dinâmica das próximas conversas presidenciais e da capacidade dos Estados Unidos de articular um acordo que atenda aos interesses da Ucrânia, inclua garantias internacionais e permita uma saída política que não desproteja a população nem desconsidere seus direitos.