A Revista Veja publicou, neste sábado (14), mais conteúdos que teriam sido trocados clandestinamente pelo tenente-coronel Mauro Cid com interlocutores por meio do perfil @gabrielar702, no Instagram.
Segundo periódico, foram mais de 200 mensagens enviadas pelo delator em um período de 40 dias, apesar da proibição do STF (Supremo Tribunal Federal) que o impedia de usar as redes sociais.
Através do perfil, Cid não apenas mandava mensagens de texto, mas também teria feito ligações de áudio e vídeo, enviado fotos dele mesmo e de momentos com a família, além de links de reportagens críticas à Suprema Corte.
Em uma das mensagens obtidas, Cid dizia estar sofrendo e que mal conseguia dormir, temendo uma próxima operação da Polícia Federal (PF).
– Eu só durmo por exaustão… E às 5:00 já acordo esperando a PF… E para ver as notícias. Para ver o que vão falar de mim… Ta f**** – escreveu.

Ele ainda afirmou que estava indignado com a condução do processo de delação premiada por parte da PF e expressa o desejo de dar uma entrevista à imprensa dando sua versão dos acontecimentos.
– Eu queria dar uma entrevista. Estou me coçando… – assinalou.

ESTRATÉGIAS DOS ADVOGADOS
Ainda na troca de mensagens, Cid teria detalhado as estratégias adotadas pelos seus advogados Cezar Bitencourt e Jair Alves Pereira.
– Dr Cezar acha que vou ganhar os dois anos… – escreveu.
– Ganhar dois anos de paz ou de pena? – pergunta o destinatário da mensagem.
– De pena… Que foi o que pedimos depois do perdão total… Para eu não ser expulso do EB [Exército Brasileiro]… Já tenho quatro meses de fechado…. seis meses de prisão domiciliar… Nisso que ele está se garantindo. Na verdade, ele diz que nem seremos denunciados… Dr Jair acha que só pela vacina. Ele diz que não existe materialidade em nada, mas que o problema não é jurídico… É político. Se fosse na primeira instância… Tudo já estaria enterrado pela (sic) tamanha abuso que estão fazendo com a minha vida… para pegar o PR [Jair Bolsonaro] – respondeu ele

ÁUDIO VAZADO
Além disso, Mauro Cid teria enviado um áudio relatando a dinâmica dos depoimentos que ele prestava para a PF como parte do processo de delação. Confira a transcrição:
Não, é assim, dia 11 de março, às 10 horas, compareceu o colaborador Mauro César Barbosa Cid para falar sobre os atos golpistas, investigação de atos golpistas referente à reunião do dia 2 de março. Ponto. Aí ele fala: onde foi a reunião e quem participou? Eu falava, isso, isso, isso. O que foi concluído na reunião? Ele falou assim: eu não tenho conhecimento do que foi concluído na reunião. Você começou e tal, então corta, era assim. Encerra agora essa parte da coisa. Ele cortava.
Aí a gente fala, agora o assunto vai ser general Braga Netto. Aí a gente falava, o general Braga Netto teve isso, falou isso, fez isso, o que você sabe? Eu falei, não, foi assim, foi assim, você não pode ser. Ele falava, nós temos outras informações. Eu falei, porra, então vocês me passam as informações para eu poder saber. Por quê? Porque esse telefonema que você falou aqui, foi uma das 100 ligações que eu recebi nesse dia. Eu não vou lembrar.
Aí ele falou assim, mas isso é um ponto-chave. Eu falei, é um ponto-chave para você. Tem todo ponto, tudo aqui é ponto-chave que você está dizendo. Mas para mim não é. Para mim é algo irrelevante que foi mais um pedido que eu recebi no meio de centenas no meu dia a dia. Aí ele começava a puxar o que os outros iam falar, então tá bom. Aí ele falou assim, o Cavalieri, ou fulano de tal, falou isso, isso, isso. Depois ele disse, então é isso, tal, tal, tal”.
MENTIRA PODE COLOCAR DELAÇÃO EM CHEQUE?
Nesta sexta-feira, a Veja já havia revelado partes do material obtido, que podem ser conferidas aqui. Em suma, o periódico afirma que Cid fazia jogo duplo, fornecendo informações sobre a suposta trama de golpe, e dando uma versão diferente a pessoas próximas. Também dizia a interlocutores que a PF tentava manipular suas falas.
Em seu depoimento ao STF na última semana, Cid teria mentido ao ministro Alexandre de Moraes ao dizer que se manteve afastado das redes durante todo esse período. A mentira coloca em risco o acordo de delação porque, na condição de réu colaborador, o ex-ajudante de ordens assumiu com a Justiça o compromisso de falar apenas a verdade. Ao descumprir, ele pode perder os benefícios e sua delação terá de ser anulada.
Durante o interrogatório no STF, o advogado Celso Vilardi, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o indagou sobre o perfil @gabrielar702.
– Quero saber se ele fez uso em algum momento para falar de delação de um perfil no Instagram que não está no nome dele. Conhece um perfil chamado @gabrielar702? – questionou.
– Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa – respondeu.
O QUE DIZ CID?
Em ofício ao STF, Cid diz que as mensagens expostas pela Veja são uma “miserável fake news” e que o “perfil nunca é e nunca foi utilizado por Mauro Cid, pois, ainda que seja coincidente com o nome de sua esposa (Gabriela), com ela não guarda qualquer relação”.
A defesa do militar ainda pediu que o perfil fosse investigado por ordem do STF, solicitação que foi acatada por Moraes.