A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (11) mais três pessoas no inquérito que apura o suposto plano de golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. Entre os indiciados estão os militares Aparecido Andrade Portella, suplente da senadora Tereza Cristina (PL-MS) e ex-ministra da Agricultura no governo Bolsonaro; Reginaldo Vieira de Abreu; e Rodrigo Bezerra de Azevedo.
Duas semanas antes, a PF já havia indiciado 37 pessoas, incluindo Jair Bolsonaro e o general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa eleitoral do ex-presidente.
O caso segue agora para análise da Procuradoria-Geral da República (PGR), com previsão de que o procurador-geral, Paulo Gonet, apresente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em fevereiro, denúncias contra os envolvidos considerados culpados.
A investigação da PF atribui papéis específicos aos três militares indiciados. Aparecido Andrade Portella, militar da reserva, teria atuado como intermediário entre o governo Bolsonaro e financiadores de manifestações “antidemocráticas”. Ele visitou o Palácio da Alvorada ao menos 13 vezes em dezembro de 2022, reforçando sua proximidade com Bolsonaro, com quem serviu em Nioaque (MS) na década de 1970.
Portella utilizava o codinome “churrasco” para se referir ao golpe de Estado em mensagens trocadas com Mauro Cid, indicando que financiadores estavam cobrando a execução da “ruptura institucional” após contribuírem financeiramente, referindo-se aos valores como “colaboração da carne”.
Ele também sugeria estratégias para o movimento golpista e demonstrava preocupação em ocultar sua participação nos atos de 8 de Janeiro de 2023. Em depoimento à PF, Portella optou por permanecer em silêncio, mas evidências apontam para sua participação ativa.
Já Reginaldo Vieira de Abreu, coronel do Exército e chefe de gabinete do então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, Mário Fernandes, é acusado de disseminar desinformação sobre o sistema eleitoral. Ele teria levado um hacker à sede da PF em Brasília para tentar formalizar “denúncias falsas” contra as urnas eletrônicas. Além disso, manipulou relatórios das Forças Armadas para alinhá-los com informações falsas divulgadas pelo argentino Fernando Cerimedo.
Vieira também forneceu informações sobre o deslocamento do ministro Gilmar Mendes em novembro de 2022, período em que foi elaborada a minuta do golpe que previa a prisão do ministro. Ele imprimiu um documento intitulado “Gabinete de Crise” no Palácio do Planalto, que seria usado para assessorar Bolsonaro após a concretização do golpe. Durante seu depoimento, também permaneceu em silêncio.
Rodrigo Bezerra de Azevedo, major do Exército e integrante do Comando de Operações Especiais (Copesp), é acusado de integrar o núcleo operacional do plano de assassinato do ministro Alexandre de Moraes. Investigadores identificaram que o codinome “Brasil” estava associado a um número de telefone utilizado por Azevedo em ações clandestinas.
Dados telefônicos indicam que aparelhos vinculados ao codinome estavam próximos à residência do major em Goiânia após a tentativa de assassinato. Ele admitiu ter utilizado celulares e chips anonimizados, mas alegou que encontrou o dispositivo em uma sala do Copesp e não sabia de seu envolvimento anterior.
Apesar de afirmar que o celular foi descartado após ser danificado, a PF considera que as provas conectam Azevedo diretamente à operação criminosa.
Os três militares se juntam ao conjunto de indiciados pela PF, reforçando o entendimento de uma organização criminosa estruturada para tentar interromper o regime democrático no país.
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