Em meio a uma crise política sem precedentes na França, a confiança dos franceses no presidente Emmanuel Macron, de centro-esquerda, atingiu o patamar mais baixo desde o início de seu mandato, conforme dados do instituto Elabe divulgados nesta quinta-feira, 9. O levantamento indica apenas 14% de aprovação.
A pesquisa revela que a popularidade de Macron caiu três pontos no apenas no último mês, sete pontos em dois meses e 13 pontos desde março de 2025. Esse índice de popularidade iguala o recorde negativo registrado por François Hollande (Partido Socialista) em novembro de 2016, considerado o menor já observado no país.
“Humilhação” e “crise de hostilidade”
Segundo o jornal Les Echos, o resultado representa “uma humilhação para o presidente da República”.
Bernard Sananès, presidente do instituto Elabe, analisou o cenário: “Não é mais uma crise de impopularidade, é agora uma crise de hostilidade”, afirmou ao Les Echos. A desaprovação alcança o eleitorado de Macron, já que somente 38% daqueles que votaram nele no primeiro turno da eleição presidencial de 2022 mantêm confiança em seu governo.
Quatro premiês em 10 meses
A instabilidade política ganhou destaque nos principais veículos de imprensa nesta quinta-feira, 9. No dia anterior, Sébastien Lecornu, que havia assumido o cargo de primeiro-ministro em 10 de setembro, concedeu entrevista à televisão francesa para justificar sua saída, menos de um mês depois da nomeação. Lecornu foi o quarto premiê em apenas um ano e o quinto nomeado por Macron em seu segundo mandato.
Lecornu, ex-ministro das Forças Armadas, assumiu o governo depois que François Bayrou não obteve voto de confiança da Assembleia Nacional. Sua principal missão seria buscar consenso no Parlamento para aprovar o orçamento de 2026 até o fim deste ano.
No domingo 5, Lecornu anunciou um gabinete semelhante ao anterior, com ministros de centro-direita e direita, mas renunciou na segunda-feira 6, com a constatação de falta de condições para continuar.
Os caminhos de Macron
Depois da renúncia, Macron pediu a Lecornu que permanecesse na condução dos assuntos administrativos e liderasse negociações para tentar construir “uma nova base de apoio político”.O presidente francês, Emmanuel Macron: grave crise política | Foto: Reprodução/Twitter/X
O jornal Libération afirmou que a crise atual tem origem na reforma da Previdência aprovada em 2023 por Élisabeth Borne, sem o aval final da Assembleia Nacional, fato que impulsionou a vitória da coalizão de esquerda Nova Frente Popular nas eleições antecipadas de 2024.
Le Figaro mencionou o temor de deputados centristas e de direita frente à possibilidade de uma nova dissolução da Assembleia, enquanto representantes da esquerda e direita avaliam que o atual Parlamento não reúne condições para continuar. Apesar das especulações, a sede do governo informou na noite de quarta-feira que um novo premiê será anunciado “nas próximas 48 horas”, descartando por ora a dissolução da Casa. Questionado sobre a escolha, Lecornu respondeu: “É o presidente que decide”.
Fonte: Revista Oeste