A Groenlândia, território autônomo da Dinamarca, celebra nesta terça-feira eleições sem previsões confiáveis e dividida entre o desejo de independência e a necessidade de manter seu bem-estar, no contexto do interesse dos Estados Unidos em adquirir a ilha ártica.
O único levantamento publicado há mais de um mês, com 30% de eleitores indecisos, aponta uma vitória do partido socialista Inuit Ataqatigiit (IA), do presidente Múte B. Egede, com 31%, à frente do social-democrata Siumut. Ambos os partidos governaram juntos nos últimos três anos, embora ambos percam apoio em relação às eleições de 2021.
O Democratiit seria a terceira força, com quase 19%, superando o Naleraq, o partido mais radical em relação à ruptura com a Dinamarca, que, apesar disso, teve um aumento no apoio.
“A eleição vai decidir o futuro da Groenlândia. E os partidos querem coisas diferentes, então veremos que direção a Groenlândia tomará”, afirma Aviaq Pedersen, estudante, em entrevista à EFE em Nuuk.
O interesse contínuo de Trump pela Groenlândia tem pairado sobre a campanha eleitoral, forçando os principais partidos a se posicionarem, com a maioria se opondo às intenções do ex-presidente. Em sua última intervenção nas redes sociais no domingo, Trump mostrou apoio à decisão da Groenlândia sobre seu futuro, prometendo segurança e “bilhões de dólares” em investimentos.
Em uma entrevista à televisão pública dinamarquesa DR, transmitida nesta terça-feira, mas gravada antes das declarações de Trump, Egede aumentou o tom de suas reações anteriores e pediu “respeito”, além de defender um governo “forte” e a construção de uma base econômica sólida para avançar em direção à independência, sem data definida.
“A economia da Groenlândia depende fortemente da Dinamarca, que contribui com cerca de 40% da receita da ilha, e a pesca representa 90% de suas exportações.”
O Siumut, tradicional partido dominante da política groenlandesa, sofreu indiretamente a influência de Trump e o crescimento das discussões sobre a independência, apoiada por todas as forças parlamentares, com exceção dos liberais do Attasut.
O Siumut enviou mensagens ambíguas durante a campanha e perdeu Aki-Matilda Høegh-Dam, uma das duas deputadas groenlandesas no Parlamento dinamarquês. Høegh-Dam se juntou ao Naleraq, partido que também recebeu a adesão de Qupanuq Olsen, a influenciadora groenlandesa mais conhecida, com seus vídeos em inglês sobre a cultura inuit.
O Naleraq participou como parceiro menor em dois governos anteriores, o último com o IA em 2021, mas a coalizão durou apenas um ano, marcada por várias polêmicas, como a ideia do líder do partido, Pele Broberg, de que somente pessoas de origem inuit poderiam votar em um referendo de independência.
O Naleraq é o partido mais favorável a estreitar laços com os EUA, com o objetivo de firmar um tratado de livre associação, em troca de dinheiro e segurança, apesar de já ter uma base na Groenlândia.
Preocupações com Bem-Estar Social
Enquanto a política externa e a independência dominam o debate eleitoral, muitos groenlandeses estão mais preocupados com questões internas, como saúde e bem-estar social. “Os políticos precisam trabalhar mais nas áreas sociais e de saúde. Temos um grande problema com a falta de médicos”, afirma Lilly Michaelsen, assistente social, à EFE.
As deficiências nos serviços de saúde e educação são uma das razões pelas quais o número de groenlandeses que vivem na Dinamarca aumentou em 23% desde 2008, totalizando cerca de 17.000 pessoas.
Cobiçada por Trump, Groenlândia faz eleições parlamentares nesta terça-feira
