Uma rede de monitoramento financiada pelo governo federal, sob coordenação da Secretaria de Comunicação Social (Secom), tem chamado atenção pelo alto custo — R$ 54 milhões — e pelo caráter controverso de suas atividades. Oficialmente criada para combater a desinformação, a estrutura tem levantado suspeitas de estar sendo usada para monitorar opositores e críticos da atual gestão.
A iniciativa conta com uma série de parcerias com universidades federais, organizações não governamentais e agências de checagem, e é apresentada como uma ferramenta para proteger a democracia e garantir a circulação de informações verificadas. No entanto, o crescente uso político do termo “fake news” e a atuação seletiva da rede despertam preocupações sobre sua real finalidade.
Rede já financiou viagens internacionais com verba pública
Um dos pontos que mais gerou críticas foi o uso de recursos da Secom para financiar viagens a Cuba. Integrantes da rede participaram, com passagens e diárias pagas com dinheiro público, de um congresso internacional sobre comunicação e “resistência digital” no país caribenho. O evento reuniu representantes de governos com histórico de controle rígido sobre a imprensa, o que acentuou os questionamentos sobre o alinhamento ideológico da iniciativa brasileira.
Para membros da oposição e setores da sociedade civil, a escolha do destino e o conteúdo do encontro indicam que a rede pode estar sendo usada como instrumento político, mais voltado à vigilância de adversários do que ao enfrentamento técnico da desinformação.
Estrutura sob suspeita
A rede conta com núcleos de atuação dentro de universidades como a UFRJ, a UnB e a Fiocruz. Essas instituições colaboram com a produção de relatórios, campanhas digitais e sistemas de monitoramento de conteúdos considerados enganosos nas redes sociais. Entretanto, críticas apontam que os alvos frequentes das ações são parlamentares, influenciadores e veículos de mídia independentes com perfil opositor.
Até o momento, o governo não divulgou com transparência os critérios usados para identificar o que é classificado como desinformação, tampouco como se dá o processo de checagem, o que acende o alerta para possíveis distorções no uso da estrutura.
Falta de controle independente
Embora a Secom afirme que todas as ações estão em conformidade com a legislação e que há prestação de contas por meio de relatórios, não existe, até agora, um mecanismo externo de controle ou auditoria independente. Isso agrava a percepção de que o projeto pode estar sendo instrumentalizado para beneficiar politicamente o governo, com o uso de recursos públicos para vigiar e enfraquecer adversários.