A justiça boliviana solicitou a prisão do ex-presidente Evo Morales nesta sexta-feira (17) após ele se ausentar pela segunda vez da audiência de medidas cautelares em um processo no qual é investigado por tráfico de pessoas. A audiência, realizada no Tribunal Departamental de Justiça de Tarija e que durou mais de quatro horas, resultou na decisão do juiz Nelson Rocabado de pedir a prisão de Morales, além de determinar o congelamento de suas contas bancárias, o registro de seus bens e a emissão de uma nova ordem de prisão.
Após o término da audiência, a defesa de Morales anunciou que solicitará uma ação de liberdade, alegando irregularidades no processo. O advogado e ex-ministro de Morales, Jorge Pérez, defendeu que o ex-presidente é “inocente e um perseguido político”, alegando que o devido processo não foi respeitado e que a defesa não foi devidamente notificada. Pérez também desafiou as autoridades a provarem que houve a notificação oficial de Morales, o que, segundo ele, não aconteceu.
Inicialmente marcada para o dia 14 de janeiro, a audiência foi adiada para esta sexta-feira depois que a defesa de Morales apresentou um atestado médico alegando problemas de saúde. O juiz concedeu um prazo para que fosse apresentada uma avaliação médica realizada pelo Instituto de Investigação Forense (IDIF).
No momento anterior à audiência, ocorreram confrontos entre apoiadores e opositores de Morales na porta do tribunal. Os seguidores de Morales ergueram cartazes pedindo a presunção de inocência e criticaram o presidente Luis Arce, questionando a omissão de autoridades que não denunciaram os supostos crimes no passado. Por outro lado, detratores do ex-presidente, com rostos cobertos, também exibiram cartazes exigindo justiça, gerando um ambiente de tensão.
Esse julgamento ocorre em meio a uma intensa disputa interna no Movimento ao Socialismo (MAS), envolvendo os líderes Evo Morales e Luis Arce, que disputam o controle do partido e do poder no Estado. Apesar da solicitação de prisão, alguns analistas acreditam que esse não será o desfecho final da batalha política.
Morales é investigado por tráfico de pessoas e estupro, relacionados a um caso envolvendo uma jovem de 15 anos, com quem ele teria tido uma filha em 2016. A criança foi registrada dois anos depois em Yacuiba, cidade fronteiriça com a Argentina, e esse registro é visto como evidência do crime. O pai da jovem está preso preventivamente, enquanto sua mãe foi convocada à audiência, mas também não compareceu.