Os mercados internacionais operavam em queda nesta sexta-feira, em meio a uma forte aversão global ao risco após Israel lançar um ataque militar em grande escala contra o Irã. A ofensiva israelense atingiu instalações nucleares e fábricas de mísseis iranianas, resultando na morte de vários comandantes militares, numa ação que pode se prolongar na tentativa de impedir o desenvolvimento de armas atômicas por Teerã.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, principal aliado de Israel, sugeriu que o ataque foi provocado pela resistência iraniana a um ultimato norte-americano nas negociações para restringir seu programa nuclear. Contudo, Washington afirmou que não participou diretamente da operação.
Por volta das 11h30 (horário de Brasília), os principais índices de Wall Street registravam queda entre 1% e 1,2%. O preço do ouro, ativo tradicionalmente visto como porto seguro, subiu 1,5%, cotado a US$ 1.752 a onça, enquanto o petróleo cru disparou 7,3%, chegando a US$ 73,01 o barril no mercado americano.
Na Europa, os principais índices também recuavam: o FTSE de Londres caiu 0,4%, o DAX de Frankfurt perdeu 1,4% e o CAC 40 de Paris caiu 1,2%.
“Estamos vendo os movimentos clássicos de aversão ao risco”, avaliou Matthew Haupt, gestor de carteiras da Wilson Asset Management, em entrevista à Reuters. “Agora, o que será decisivo é a magnitude e a velocidade da resposta do Irã. Isso determinará por quanto tempo esses movimentos de mercado irão durar. Muitas vezes, essas reações se dissipam depois do impacto inicial.”
Um relatório do banco JP Morgan indicou que o preço do petróleo cru pode dobrar e atingir a barreira dos US$ 130 por barril caso o conflito no Oriente Médio se intensifique.
O ataque israelense ocorre num momento em que os mercados globais começavam a se recuperar da queda sofrida em abril, provocada pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China. Na quinta-feira, o índice global de ações havia atingido recorde, com alta superior a 20% desde as mínimas de abril.
“A curto prazo, os investidores verão esse episódio como um catalisador para realizar lucros após a forte alta dos ativos de risco”, comentou Vincent Mortier, diretor de investimentos da Amundi SA. “A reação nos ativos de refúgio tem sido limitada. Acreditamos que o impacto dos ataques será localizado e não se espalhará globalmente”, completou em entrevista à Reuters.
As ações do setor energético registraram alta nas negociações pré-abertura, impulsionadas pela alta do petróleo. Exxon Mobil e Chevron ganharam mais de 2,5%. Empresas do setor de defesa, como RTX Corporation (+2,6%) e Lockheed Martin (+3,6%), também tiveram valorização na expectativa de aumento nos gastos militares. Em contrapartida, o setor de turismo sofreu pressões negativas.
Uma alta sustentada no preço do petróleo pode alimentar a inflação e, ao mesmo tempo, aumentar a pressão sobre as taxas de juros da Reserva Federal dos Estados Unidos e de outros bancos centrais, que já enfrentam desafios devido à guerra comercial liderada por Trump.
“Os mercados globais enfrentam uma nova onda de incerteza após o ataque aéreo de Israel à usina nuclear iraniana de Natanz, que causou múltiplas mortes e elevou o risco de um conflito aberto no Oriente Médio. O petróleo reagiu com salto de até 13%, e o JP Morgan alerta que os preços podem chegar a US$ 130 por barril se a escalada continuar, afetando rotas estratégicas como o estreito de Ormuz”, avaliou Felipe Mendoza, analista de mercados financeiros da ATFX Latam.
“O mapa estratégico energético do JP Morgan destaca a vulnerabilidade do estreito de Ormuz, por onde transita uma parte essencial do fornecimento mundial de petróleo, que nunca foi fechado na história registrada, embora as tensões atuais aumentem o risco de uma possível intervenção militar dos EUA”, acrescentou Mendoza.
“Será interessante observar os rendimentos dos títulos públicos para avaliar se os movimentos refletem expectativas inflacionárias ou uma fuga para ativos refugio”, comentou Kevin Thozet, membro do comitê de investimentos da Carmignac.
Mercados globais caem após ataque militar de Israel contra Irã
