O coronel Jorge Eduardo Naime, ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar (Dop) do Distrito Federal, respondeu, nesta segunda-feira, 26, a um ataque do senador petista Fabiano Contarato (ES).
Contarato usou quase seus 10 minutos de fala para dizer que Naime e a PM-DF foi “omissa” com os atos do 8 de janeiro e que escoltaram os manifestantes até a praça dos Três Poderes.
“O Código Penal é claro quando diz: ‘Qualquer um do povo poderá prender no estado flagrancial, mas a autoridade policial e seus agentes deverão prender quem quer que se encontre nesse estado”, declarou o petista.
Então, o coronel Naime respondeu: “Se é tão simples prender manifestantes, porque o senador não saiu da sala dele para ele prender”, questionou o coronel. “Os acampamentos eram públicos. Tenho o meu limite de autoridade e não poderia ter agido contra.”
Contarato se referia a uma operação que Naime iria fazer contra o acampamento que acontecia em frente ao quartel-general. Conforme relatou o coronel, em 28 de dezembro ele se encontrou com o general Gustavo Dutra, então chefe do Comando Militar do Planalto, para organizar uma operação para desmobilizar o conglomerado.
“Havia informes da Polícia Civil sobre ocorrências nos acampamentos de vendas ilegais de ambulantes, de denúncias de abusos sexuais e etc”, disse. “Em 29 de dezembro, coloquei à disposição das Forças Armadas mais de 300 agentes para desmobilizar o conglomerado. Se eu falo para o general que consigo desmobilizar, é porque eu consigo. Era para desmobilizarmos todas as barracas de ambulantes e a cozinha que estava alimentando os manifestantes.”
A tentativa de Naime para desmobilizar o acampamento foi frustrada. Dutra disse a ele que a operação não iria acontecer. “Ele até me disse que eu trouxe efetivos demais”, declarou. “Fomos impedidos e não conseguimos desmobilizar nada. A PM ficou com um descrédito muito grande. Fomos impedidos pelo Exército Brasileiro.”
Diante da recusa das Forças Armadas em ajudar a PM, o coronel encaminhou documentos aos seus superiores relatando a dificuldade para desmobilizar o acampamento. “Os meus superiores devem ter levado isso à Secretaria de Segurança Pública”, continuou ao destacar que fez tudo o que pôde. “Mas existem instituições e tenho meu limite de autoridade. Não poderia agir contra superiores hierárquicos.”
O senador petista, porém, parece não ter escutado essa parte do depoimento. O coronel estava de folga no dia dos ataques à Praça dos Três Poderes, mas foi inquerido pelo coronel Klepter Rosa, então sub-comandante geral da PM.
“O coronel Klepter me ligou na minha folga e disse para eu ir para a Esplanada e prender todos o que conseguisse”, disse Naime. “Cheguei ao local por volta das 17h40, efetuei aproximadamente 400 prisões, fui atingido por um rojão e consegui desocupar os prédios dos Três Poderes.”
Naime fez exames de corpo e delito, pois ficou com a perna ferida depois do embate com os vândalos. “Esperava receber uma medalha depois de tudo”, contou. “Mas fui preso.”
O coronel está detido há quase cinco meses, mas, até o momento, o Ministério Público não ofereceu se quer uma denúncia contra ele. Naime diz não saber o motivo da prisão. O pedido da detenção partiu da Procuradoria-Geral da República que alegou risco de fuga por parte de Naime.
A informação faz parte de uma denúncia da ex-mulher do coronel, Tatiana Belt, que disse ter sido agredida com uma barra de ferro por ele ao tentar impedir a suposta fuga de Naime com os filhos para a Bahia.
Em seu depoimento, o coronel negou a acusação da ex-mulher e disse que Tatiana tenta reatar o relacionamento com ele até os dias atuais, mesmo ele sendo casado há dez anos. “Tatiana já me acusou injustamente de estupro contra a minha própria filha”, contou ele aos parlamentares.
Durante a CPMI, o deputado federal André Fernandes (PL-CE) disse que, após a sessão, a oposição deve se reunir para assinar um pedido de revogação de prisão para Naime.
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