O discurso populista de combater a corrupção, governar para os pobres e tirar partidos tradicionais do poder pesou mais do que as denúncias de assédio sexual que mancham o currículo do economista Rodrigo Chaves, que no domingo (03/04), se tornou o novo presidente da Costa Rica, depois de vencer por quase seis por cento pontos sobre o ex-presidente José María Figueres.
Com 89% das mesas apuradas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou após as 20h, horário local, que Chaves obteve 52,9% dos votos, enquanto Figueres obteve 47,1%. Dos 3,5 milhões de costarriquenhos aptos a votar, 42,8% se abstiveram.
O segundo turno das eleições para escolher o sucessor do centro-esquerda Carlos Alvarado concentrou-se mais nos perfis dos candidatos do que nas tendências ideológicas, já que ambos estão conceitualmente localizados no centro e as diferenças entre seus programas de governo não são muito marcadas. Longe vão os extremos liderados pela esquerdista María Villalta, por um lado, e, por outro, o pastor cristão designado como ultraconservador por suas posições fundamentalistas em termos de religião, Fabricio Alvarado, que não obteve os votos necessários no primeira rodada para passar para a votação.
Penalidade por “má conduta sexual”
Os eleitores colocaram a lupa nas polêmicas pessoais de cada um. Por um lado, José María Figueres, que liderou o país entre 1994 e 1998, foi apontado por suposta falta de ética em casos de corrupção no passado; de outro, o agora presidente eleito, Rodrigo Chaves, que foi ministro da Fazenda no atual governo, mas permaneceu no cargo por apenas sete meses devido a divergências com o presidente Carlos Alvarado, recebeu uma sanção do Banco Mundial em 2019, após foi determinado que ele se envolveu em “conduta sexual imprópria contra subordinados”, durante seu tempo na agência. De acordo com o jornal costarriquenho La Nación publicado no ano passado, Chaves apresentou um “padrão de comportamento inadequado indesejado”, citando a referida sanção.
“O Tribunal Administrativo do Banco Mundial considerou que a alta administração do banco, sob a presidência de David Malpass e seus dois antecessores, não sancionou adequadamente Rodrigo Chaves. Ele foi rebaixado, mas não demitido, apesar de um padrão documentado de assédio, que durou pelo menos quatro anos e envolveu seis mulheres”, acrescentaram documentos relacionados ao caso que foram analisados pelo The Wall Street Journal.
Mal-entendido
Rodrigo Chaves insistiu durante a campanha que as denúncias de suposto assédio sexual nunca ocorreram e que foi um “mal-entendido” por parte de seus colegas de trabalho. A relação com a imprensa durante os próximos quatro anos pode se tornar espinhosa, pois devido às publicações relacionadas aos escândalos de assédio sexual e possíveis estruturas paralelas de financiamento, ele teve atritos com a mídia durante a campanha, que acusou de ser “tendenciosa”.
Suas promessas de campanha se concentraram em oferecer redução do tamanho do Estado e redução de encargos sociais, além de entraves ao investimento e ao empreendedorismo. O então candidato do Partido Social Democrata do Progresso concentrou seu discurso em culpar a corrupção no país em partidos tradicionais como o Partido da Libertação Nacional (PLN), do qual Figueres pertence.
Rodrigo Chaves toma posse oficialmente, no dia 08 de maio, como o 49º presidente da Costa Rica a governar o país pelos próximos quatro anos.
*Com informações da Bles