Com exclusividade para o VISTA PATRIA, Ronie Sousa, juiz federal de Goiás, explicou porque não se deve desperdiçar o voto se abstendo ou anulando.
De acordo com o juiz, as pesquisas de opinião têm o poder de influenciar opções de votos, pois ninguém “quer jogar o voto fora”. Ou seja, as pesquisas têm o poder de manipular o cenário político.
“O poder emana do povo, esse um dos princípios basilares da República. Quando alguém funda um instituto de pesquisa de opinião pública e se coloca a trabalhar durante o processo eleitoral, ela deve ter em mente que o seu trabalho poderá influenciar na origem do poder. Assim, erros do passado e erros presentes não são coisas que possam simplesmente não ser submetidas a uma avaliação e disciplina. Do contrário, estar-se-á dando uma licença para que os resultados de pesquisa de opinião pública, que têm o poder de influenciar na tomada de decisão de alguns eleitores, possam apresentar erros que não serão submetidos a um poder disciplinar”.
O magistrado ainda pondera que as pesquisas são uma “demonstração da total falência e necessidade de reformulação das regras para funcionamento desse tipo de instituição”, já que “o próprio fato de existirem hoje vários institutos de pesquisa divulgando números totalmente diferentes, alguns dando vitória a um candidato “A” no primeiro turno e outras dando vitória a um candidato “B” também no primeiro turno (muito embora utilizando do recurso das “margens de erro” e da existência de um elevado percentual de “indecisos” como justificativa prévia para possíveis erros graves quanto a suas previsões…)”
“Quanto aos institutos de pesquisa de opinião pública, o próprio fato de existirem hoje vários institutos de pesquisa divulgando números totalmente diferentes, alguns dando vitória a um candidato “A” no primeiro turno e outras dando vitória a um candidato “B” também no primeiro turno (muito embora utilizando do recurso das “margens de erro” e da existência de um elevado percentual de “indecisos” como justificativa prévia para possíveis erros graves quanto a suas previsões…) – por si só já é uma demonstração da total falência e necessidade de reformulação das regras para funcionamento desse tipo de instituição.”
Confira:
O verdadeiro significado de “não desperdiçar o voto”
O primeiro desperdício é o de seguir-se as tendências que alguém tenha percebido por você e não as que você esforçou-se por perceber, usando sua razão, seus sentidos e seu livre convencimento.
No Brasil ainda hoje algumas pessoas ainda votam de acordo com o que percebam (ou queiram fazê-los perceber) a respeito de quem possivelmente possa ser o vencedor das eleições, conforme as tendências, dizendo: “- não quero desperdiçar meu voto!”
Entretanto, pense aqui comigo uma coisa.
Se os estudiosos da “Cultura Brasileira” destacam além das diversas e imensas virtudes de nosso povo caloroso, gentil, generoso e acolhedor, além do neutro “jeitinho brasileiro” (que pode ser usado para o bem e para o mal), salientam também algumas “desvirtudes” como o “levar vantagem em tudo” e a “cultura da malandragem” – diante disso, será que alguns políticos mais cabulosos não teriam uma ideia de tentar de alguma forma levar a população a ter a percepção de uma “falsa tendência” de intenção de votos para um candidato de sua preferência?
Existem algumas formas tentar “desenhar” essa tendência de intenção de votos. Umas são visíveis aos nossos olhos, outras dependem do grau de confiança que são depositados naqueles que informam através de números o que “perceberam” em suas pesquisas.
Os comícios, passeatas e outras espécies de ajuntamento de pessoas são um meio para demonstrar, através da grandeza da presença de pessoas, uma tendência de intenção de votos; outro meio é pelo meio de apresentação de resultados numéricos do trabalho de institutos de pesquisa de opinião pública.
Alguns, dizem por aí, que no passado muitos conseguiram demostrar alguma presença significativa de pessoas em ajuntamentos através do fornecimento de facilidades como transporte, alimentação e pagamento ou até pela pressão decorrente da autoridade advinda de subordinação ligada à benesse dos “cargos em comissão”; outros relatam o trabalho de construção artificial de multidões pela multiplicação de imagens utilizando programas de computador – mas a realidade de “um celular na mão de cada indivíduo” dificulta a perpetuação desses artifícios desleais e facilita o seu desmascaramento… Por outro lado, essa mesma realidade de que cada cidadão, “com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, seja potencialmente uma espécie de “repórter em campo”, nos proporciona o facilitar-se a documentação dos verdadeiros ajuntamentos significativos de pessoas demonstrando uma tendência massiva de intenção de votos em um candidato.
Assim, caso a pessoa faça um livre exercício do direito ao exame imparcial, racional e acurado dos fatos, não ouvindo só um dos lados ou tendência ou interesses, poderá ter diante de si algo que se aproxime em muito de uma real tendência de intenção de votos (e com isso não estou dizendo que “votar conforme as tendências” seja de fato um “voto útil”, mas tão somente que é um meio de examinar a tendência mais próxima do real).
Quanto aos institutos de pesquisa de opinião pública, o próprio fato de existirem hoje vários institutos de pesquisa divulgando números totalmente diferentes, alguns dando vitória a um candidato “A” no primeiro turno e outras dando vitória a um candidato “B” também no primeiro turno (muito embora utilizando do recurso das “margens de erro” e da existência de um elevado percentual de “indecisos” como justificativa prévia para possíveis erros graves quanto a suas previsões…) – por si só já é uma demonstração da total falência e necessidade de reformulação das regras para funcionamento desse tipo de instituição.
O poder emana do povo, esse um dos princípios basilares da República. Quando alguém funda um instituto de pesquisa de opinião pública e se coloca a trabalhar durante o processo eleitoral, ela deve ter em mente que o seu trabalho poderá influenciar na origem do poder. Assim, erros do passado e erros presentes não são coisas que possam simplesmente não ser submetidas a uma avaliação e disciplina. Do contrário, estar-se-á dando uma licença para que os resultados de pesquisa de opinião pública, que têm o poder de influenciar na tomada de decisão de alguns eleitores, possam apresentar erros que não serão submetidos a um poder disciplinar.
Sobre o segundo desperdício serei breve. Inicio perguntando: “Por qual razão tantos políticos com reputação ‘ficha suja’ são reeleitos?” Não é isso uma prova cabal de que muitos ainda estão a “desperdiçar votos”? Esse fato é uma demonstração cabal de que no Brasil ainda existem muitos “currais eleitorais” e da grande influência do poder econômico na captação de votos e de que estamos muito longe do ideal. Uma causa da perpetuação desse problema no Brasil talvez seja a nossa concentração de tempo e atenção para a eleição presidencial e dando pouca atenção estratégica para as eleições de Deputados Federais e Senadores. Nesse ambiente de desinformação e pouca atenção nas eleições para o Parlamento nacional, muitos “ficha suja” ainda estão sendo reeleitos, acredito. Assim, um pouco mais de atenção nessa questão na hora de votar poderá nos proporcionar um Congresso Nacional mais qualificado.
Sobre o terceiro e último tipo de desperdício, que trata do exercício de “não votar”, seja pelo não comparecimento, pelo voto em branco ou nulo também não me alongarei por demasiado. Não votar, em quaisquer de suas formas é uma tomada de decisão que influencia o seu destino pessoal e de sua família no presente e no futuro e por isso não se cuida de uma “omissão inocente”.
Numa obra de ficção intitulada “Este Mundo Tenebroso”, Frank E. Peretti ilustra muito bem o valor da decisão de não se abster do direito ao voto e retiro de lá esse seguinte trecho:
“Enquanto Brummel falava, os dois demônios postados no canto da igreja viram algo muito inquietante. A apenas um quarteirão vinham duas senhoras idosas, manquitolando em direção à igreja. Uma andava apoiada na bengala e ajudada pela mão da amiga. Ela não parecia nada bem, mas o queixo estava firme e os olhos brilhantes e decididos. Os estalidos da bengala formavam um ritmo sincopado com os dos seus passos. A amiga, melhor de saúde e mais forte, mantinha-se ao seu lado, segurando-lhe o braço a fim de afirmá-la e cochichava algo ao seu ouvido…”
Cuidava-se de uma votação na congregação dessas duas idosas que para lá se dirigiram para a reunião vencendo grandes dificuldades. Ao final, o esforço delas foi crucial para que o bem triunfasse sobre o mal, para o desespero dos demônios…
Não desperdice seu voto!
Que Deus tenha misericórdia do Brasil!
Grande abraço,
Ronie Carlos Bento de Sousa