Em entrevista, Barroso relaciona a direita a demônios “violentos, racistas, homofóbicos, misóginos e supremacistas”. Confira o vídeo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, em entrevista ao Canal UOL, culpa o presidente Bolsonaro das manifestações contrárias à sua atitude que vem sofrendo.


Barroso, frequentemente, é interpelado nas ruas por brasileiros que estão cansados das decisões ambíguas e draconianas tomadas por ele e seus colegas.

Na entrevista, concedida ao Canal UOL, em fevereiro de 2022, Barroso responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro dos ataques e críticas que está sofrendo de populares.

“A questão do medo, a resposta é não. Mas, eu tenho muita proteção institucional. É mais fácil para mim do que para um jornalista. A minha vida inteira eu dou aula no Rio [de Janeiro]. Então, toda quinta-feira à noite eu ia para o Rio sozinho, no avião, e as pessoas sempre gentis, sempre carinhosas. Todo mundo educado. Nunca tive problema.

Depois que o presidente começou a me atacar, obsessivamente, aí começam a surgir as ameaças de morte diárias. Aí eu tenho que começar a andar com cinco seguranças. É um inferno! De aborrecido.


Mas, medo, propriamente não, porque eu tenho essa proteção institucional e, eu cumpro a missão da minha vida. É uma sensação muito poderosa”.

Ameaças

Quando questionado pela Fabíola Cidral sobre as ameaças de morte e quais mudanças aconteceram em sua rotina, Barroso afirma que, em sua maioria, as ameaças são feitas via telefone porque é “mais difícil de deixar rastro”. Ele ainda afirma que a sua rotina segue de forma normal e, relaciona o conservadorismo e a direita a demônios “violentos, racistas, homofóbicos, misóginos e supremacistas”.

“Telefone é o mais comum porque é o mais difícil de deixar rastro. Na minha rotina mudou pouca coisa. Eu continuo indo da minha casa para o Supremo, do Supremo para o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e para o Rio [de Janeiro], vez por outra. Mas, é lamentável. O que aconteceu… É que algo aconteceu no Brasil que se liberaram todos os demônios e, portanto, os violentos, os racistas, os homofóbicos, os misóginos, os supremacistas… Pessoas que andavam nas sombras, saíram um pouco a luz do dia.

Esse foi um mal que aconteceu no mundo e que acontece no Brasil. E, detalhe, é que não tem nenhuma lógica nessa obsessão por mim.

Eu tive duas decisões que impactaram: a instalação da CPI da Pandemia – foi decisão unânime do Plenário do Supremo; eu não tomo decisões sozinho. Eu sou um sujeito antidecisões monocráticas por regra geral. Portanto, foi o Supremo institucionalmente.

Depois a defesa da Urna Eletrônica. Todos os ex-presidentes do TSE e, portanto, ex-ministros do Supremo, assinaram o documento dizendo que nunca aconteceu nada de errado.

As investigações que se instalaram pelas acusações falsas foram feitas pelo plenário do TSE, unânimes. A obsessão contra mim não se justifica. Tem alguma coisa freudiana aí. Porque eu não fiz nada sozinho. Eu sou um sujeito totalmente institucional. Eu não sei o que eu simbolizo no imaginário do presidente, para ele ter essa obsessão verdadeiramente, mas é ruim”.

Apoiadores do presidente Bolsonaro

Barroso segue atacando os apoiadores do atual mandatário, que ele classifica como “gente violenta, agressiva e grosseira”.  

“Há duas coisas muito ruins que aconteceram no Brasil, independentemente de preferências políticas. Um é identificar conservadorismo em gente violenta, agressiva, grosseira, o que é uma injustiça. Mas, o que aconteceu no Brasil, outro dia, na minha rede social, depois que entrei na presidência, eu tinha um Twitter e tinha uma senhora que disse um palavrão – eu já nem olho muito essas coisas -, mas tinha uma senhora assim, com uma cara distinta e, disse um palavrão. Eu fui lá ver e, ela dizia assim: ‘católica fervorosa, mãe de dois filhos e conservadora’. E, eu disse: Não, a senhora não – não disse, mas pensei – A senhora é mal-educada. A senhora não é conservadora. Conservador é uma pessoa que acha que as mudanças devem ser feitas com prudência e que nem tudo que é novo, é melhor e, precisa ser avaliado. Isso quer dizer ser conservador e é legítimo.

Então, a confusão entre conservadorismo e grosseria e agressividade, é lamentável que se tem feito no Brasil.

E, a segunda coisa, é a linguagem. A linguagem tem poder. A linguagem cria realidade e, portanto, as pessoas quando falam com educação, com gentileza, com respeito e consideração pelo outro, elas ajudam no processo civilizatório. A linguagem grosseira, agressiva, chula, é lamentável. E, isso está se vendo muito pelo país. É insuperável”.

Ao ser questionado sobre as ameaças online, o ministro diz que isso se banalizou, mas não tem seguranças online, porque esses arroubos fazem parte pelo papel que exerce e por não fazer concessões.

“Infelizmente, isso se banalizou muito. Como disse, nós vivemos em uma onda de liberação de demônios. Mas, eu tenho muita esperança de que aconteça com o ódio e com a desinformação nas mídias sociais, o que aconteceu com a pornografia, aí nos anos setenta e início dos anos oitenta, que é progressivamente ela vai se deslocando para a margem da história e fica lá no gueto, onde quem quer consumir, vai consumir, mas ela sai do mainstream. Mas eu tenho essa impressão de que nós vamos conseguir superar esse momento”. 

Quanto custa o Judiciário

O Judiciário brasileiro é o mais caro do mundo. O setor consome 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Somente em 2021, 92% das despesas são com gastos com pessoal. Ou seja, R$ 95.1 bilhões de reais, segundo a Revista Oeste. O total é de R$ 103,9 bilhões.

Por ramo de Justiça, os Tribunais Superiores foram os únicos que aumentaram os gastos com folha salarial de um ano para o outro, com uma elevação de 87% para 91%. Nos demais, o porcentual gasto com pessoal permaneceu relativamente estável ao longo dos últimos anos da série histórica, e nos dois últimos anos houve reduções do gasto salarial, segundo o relatório, destacou a Revista.

Segundo o relatório do Conselho Nacional de Justiça, a força de trabalho do Judiciário brasileiro é composta por 433,5 mil pessoas. São quase 18 mil magistrados (4%) e mais de 267 mil servidores (62%).

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