ONU suspende Rússia do Conselho de Direitos Humanos. Brasil se abstém

A Assembleia Geral das Nações Unidas suspendeu, na quinta-feira (07/04), a Rússia do Conselho de Direitos Humanos por relatos de “violações e abusos grosseiros e sistemáticos por tropas russas na Ucrânia.


A iniciativa, liderada pelos Estados Unidos (EUA), teve 93 votos a favor, 24 contrários e 58 abstenções. Uma maioria de dois terços dos membros votantes – as abstenções não contam – foi necessária para suspender a Rússia do conselho de 47 membros.

As suspensões são raras. A Líbia foi suspensa em 2011 por causa da violência contra manifestantes por forças leais ao então líder Muammar Kadafi.

A resolução adotada pela assembleia-geral, de 193 membros, expressa “grave preocupação com a atual crise humanitária e de direitos humanos na Ucrânia”, particularmente com relatos de abusos.

A Rússia tinha alertado os países que um voto sim ou abstenção seria visto como “gesto hostil”, com consequências para os laços bilaterais, de acordo com nota vista pela Reuters.


O país estava em seu segundo ano, de um mandato de três, no conselho, com sede em Genebra, que não pode tomar decisões juridicamente vinculantes. Suas decisões, no entanto, enviam mensagens políticas importantes e podem autorizar investigações.

O país é um dos membros mais expressivos do conselho e sua suspensão o impede de falar e votar, dizem as autoridades, embora seus diplomatas ainda possam participar dos debates.

“Eles provavelmente ainda tentarão influenciar o conselho por meio de procuradores”, afirmou um diplomata em Genebra.

Durante a reunião, Ronaldo Costa Filho, embaixador do Brasil na ONU, se manifestou sobre o tema avaliado, mesmo com a escolha de não votar.

“O Brasil está comprometido em encontrar formas de cessar as hostilidades imediatamente, promover um diálogo real em busca de uma solução sustentável e pacífica, garantindo respeito aos direitos humanos e ao direito humanitário”, afirmou.

Antes da votação, o embaixador ucraniano Sergiy Kyslytsya havia pedido que os países membros da ONU apoiassem a decisão.

“Agora o mundo chegou a um momento crucial. Testemunhamos que nosso transatlântico está passando por uma neblina traiçoeira em direção a icebergs mortais. Parece que devemos chamá-lo de Titanic em vez de Conselho de Direitos Humanos”, disse.

No mês passado, o conselho abriu investigação sobre denúncias de violação de direitos, incluindo possíveis crimes de guerra, na Ucrânia desde o ataque da Rússia.

Desde que a invasão russa da Ucrânia começou em 24 de fevereiro, a assembleia-geral adotou duas resoluções denunciando a Rússia, com 141 e 140 votos a favor. Moscou diz que está realizando “operação especial” para desmilitarizar a Ucrânia.

Os Estados Unidos anunciaram que pediriam a suspensão da Rússia, depois que a Ucrânia acusou tropas russas de matar centenas de civis na cidade de Bucha.

A Rússia nega atacar civis na Ucrânia. O embaixador na ONU, Vassily Nebenzia, afirmou na terça-feira que enquanto Bucha estava sob controle russo, “nenhum civil sofreu qualquer tipo de violência”.

Entre os votos contrários à suspensão estiveram o da própria Rússia, além de Belarus, China, Cuba, Venezuela e Coreia do Norte.

*Reportagem adicional de Emma Farge, Agência Brasil e Revista Oeste

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