Sobre Similaridades e Sinônimos

A belíssima e gloriosa Língua Portuguesa nos apresenta algumas armadilhas enriquecedoras e mesmo divertidas. Uma delas é a existência de palavras parecidas, cuja similaridade sonora pode indicar ao desavisado alguma coerência de significado, sendo muitas vezes praticamente o oposto. E, para melhorar, existem casos em que o oposto é na verdade mais adequado para definir algo que o termo originalmente usado.



Vejam por exemplo a complicada palavra Excrescentíssimo. Trata-se de um obscuro pronome de tratamento utilizado com muito menos frequência que a demandada por nossa realidade pós-moderna. Essa palavra deriva do ato de excretar, que é o que o nosso intestino tenta fazer todos os dias, atuando como um excelente gerador de metáforas para regressistas. Por favor mantenham esse texto longe da hiperdiplomada Márcia Toburra, pois ela é capaz de se animar e produzir um livro entitulado “O Fiofó Gramatical” ou algo ainda pior. Afinal, ela expele livros como quem vai ao banheiro depois de um tratamento com Floratil. A similaridade nesse caso ocorre na frequência e na qualidade do material produzido.

Mas eu divago, me perdoem. A associação teve origem olfativa, presumo, pois passou aqui à frente de casa o caminhão de lixo. Onde estava mesmo? Vejam como é bom escrever. Se me perco posso sempre ler o que estava dizendo acima no texto. Quando falamos para o público divagações podem ser fatais. Aí nossa traiçoeira memória pode falhar e podemos ser forçados a recorrer à memória coletiva. Perguntando para o público poderia vir aquela resposta, berrada lá de longe:

“Estava falando do traseiro da múmia”.

Nada disso. O desatento ouvinte teria se equivocado mas curiosamente esse grito me traria de volta ao meu rumo de pensamento. Estava falando do termo Excrescentíssimo! Sim, excelente termo. Que, por sinal, se confunde com seu falso-símile, o mais usualmente proferido Excelentíssimo. Este se destina ao presidente de qualquer dos três poderes da República e deriva do termo “excelente”, que traz em si a noção de supremacia sobre os demais.
Observem com que riqueza de ferramentas podemos transmitir importantes mensagens. Lembrei daquele meme do Capitão América em Vingadores!


Meme do Capitão América sobre referência.


É notório que essa pequena ilação sobre o Português escrito não representa nenhuma medida material contra os males que ora nos afligem mas é preciso aprender com a História e ela nos ensina que o robusto Winston Churchill, na hora mais escura para o Reino Unido no século passado, proferiu um discurso de tamanha potência que levou aquela nação à guerra e à vitória contra o totalitarismo regressista. Tal discurso foi habilmente descrito justamente por um de seus detratores. Lorde Halifax, que tramava com o desavisado Chamberlain uma solução tão pacífica quanto pusilânime e inócua para a agressão socialista alemã, definiu assim a egrégia exposição do bravo gorducho:

“Churchill mobilizou a língua inglesa e a enviou para a batalha.”


Longe de mim me comparar ao hábil artífice anglo-saxão. Sou apenas um carioca humilde e me falta a pujança retórica bem como a cintura que sobravam no bravo bretão. Temos em comum alguma apreciação pelos charutos e pela cerveja, sempre de forma moderada e sempre mantendo as devidas proporções. E grande amor à verdade e à Pátria, que ambas sejam sempre vitoriosas.

Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido
Fonte: ibtimes.co.uk


Portanto vamos mobilizar a Língua de Camões para que ela entre no combate pela nossa liberdade. Que metonímias, advérbios, hiatos e predicativos nos protejam da tirania e da descarada malícia dos que poderiam ser excelentíssimos mas que a cada rotação do assento supremo mostram ser merecedores do Excrescentíssimo.


Por um futuro em que tal confusão seja apenas uma piada sem graça e não uma mudança eficiente de adjetivo.
Dia 7 de setembro nas ruas, brasileiros!

Bandeira do Brasil

One thought on “Sobre Similaridades e Sinônimos

  • 22/08/2021 em 12:30
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    Um texto MARAVILHOSO escrito como há muito não via. Que excelência na escolha das palavras em um português que não se vê mais.
    A leitura flui com tanta natureza que os comentário jocosos, algumas vezes com muitas excrecências, acaba por nos fazer sorrir sem que queiramos.
    Bons tempos, saudades da lingua portuguesa bem utilizada.

    Resposta

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