“Mais de 7.000 espanhóis atravessaram o portão de Mauthausen. Vieram da luta contra Hitler junto com os franceses. Vieram da miséria e da fome dos campos dos refugiados. Vieram de uma guerra civil perdida.

Após serem capturados por soldados alemães, Serrano Suñer, um ministro franquista (Regime do ditador Francisco Franco), revogou a nacionalidade deles.

Para os franquistas, nem sequer eram espanhóis. Os nazistas podiam fazer o que quisessem com eles”.

O fotografo é Francesc Boix, catalão, ex-soldado e fotografo e foi designado, pelo comando nazista, a fotografar exatamente tudo o que acontecia no campo. Desde a identificação dos novos prisioneiros, como dos assassinatos promovidos pelo comando da SS e reencenar a posição dos corpos para o deleite do general nazista reviver as cenas.


A obra conta com dois figuras marcantes:

– Paul Ricken: exigia que se fotografasse tudo. Arrumava o cenário mórbido e até mexia nos corpos para se deleitar com seus feitos.

– Franz Zieres: O diretor do “espetáculo”. O comandante supremo (e terrivelmente cruel) de Mauthausen.

Por conta de seu dom, herdado de seu pai, alfaiate, Boix testemunhou todas as barbaridades e monstruosidades cometidas a mando do Terceiro Reich, comandado por Hitler.


O filme espanhol, sob a direção de Mar Targarona, se inicia com os prisioneiros passando pelos portões de Mauthausen. Se deparam com os Kapos – prisioneiros que se tornaram carcereiros-. Personagens de si. Estavam no mesmo patamar daqueles que eles agrediam e dominavam.

No uniforme a um triângulo para identificação. O triângulo verde, explica o protagonista do filme, foram os primeiros a chegar e são os estupradores, ladrões e assassinos; ‘garotos mimados alemães’.

Os triângulos azuis identificavam as pessoas expatriadas, como poloneses, russos, alemães, austríacos e mazistas. Também tinha políticos e criminosos de guerra. Lutaram contra os nazistas. Eram a favor dos soviéticos.  

A fotografia, sempre em tom acinzentado, dá um tom depressivo as cenas que nos faz viver, intimamente, o pavor e a solidão do campo de concentração.

O campo não era somente voltado para traidores, prisioneiros de guerra e comunistas. Lá também viviam judeus, ciganos, eslavos, deficientes, prisioneiros políticos, testemunhas de Jeová, entre outros.

Com a consciência de que poderia morrer a qualquer momento e sem motivo, Boix, ao mesmo tempo em que tenta proteger seus amigos prisioneiros, entre eles, crianças, é subserviente aos mandos e desmandos do comando nazista.

Havia algumas maneiras de morrer em Mauthausen:

1-) Câmara de gás,

2-) Injeção Letal,

3-) Despedaçado por cães,

4-) Banhos gelados no inverno (além do banho com gelo, eram deixados na neve (-30 graus) para secar o corpo),

5-) Surras de bastões até a morte,

6-) Fuzilamento em grupo,

7-) Experiências médicas,

8- ) Enforcamento,

9-) Fome em solitárias,

10-) Afogamento em barris de água,

11-) Exaustão na Escada da Morte (essa era a pior forma)

A Escada da Morte foi construída pelos próprios prisioneiros, onde seus degraus altos, exigiam mais desgaste físico para subir a alta montanha. Muitos morriam por exaustão, outros por quedas.

No campo de concentração também havia prostitutas, onde era prometido a essas mulheres que, caso elas aceitassem a se prostituir, poderiam ganhar a liberdade em 06 meses. Era mentira. Elas serviam a prisioneiros modelos e guardas.

Boix, ao ter a informação que os nazistas perderam a Batalha de Stalingrado, ele traçou um plano quase suicida: copiar todas as fotos. “Ninguém vai crer se não ver”, disse ele. Conseguiu salvar 2.000 fotografias, incluindo Himmeler, que negou que soubesse das condições dos presos, sendo contrariado por uma das fotografias salvas.

Centenas de documentos, como fichas dos presos, registros das mortes nas câmaras de gás, foram incinerados.

Boix revive o herói da guerra. Por causa da sua coragem suicida, hoje temos uma bela obra cine-biográfica.

Todas as imagens salvas serviram como documentos nas comprovações das atrocidades que os nazistas realizavam. O material foi destinado ao Tribunal de Nuremberg.

Mauthausen:

Mauthausen ficava na Áustria, a 5 KM de Gusen – anexo do campo de concentração, onde prisioneiros com deficiência física ou incapacidade laboral eram enviados para morrer – e era um complexo de campos de concentração construídos pelos nazistas na Áustria, situado a cerca de 20 KM da cidade de Lins. Inicialmente consistia apenas em um pequeno campo. Com o tempo, transformou-se num dos maiores complexos de trabalho escravo da Europa ocupada pela Alemanha durante a II Guerra Mundial. Os prisioneiros destes campos eram usados para trabalho escravo em prol do exército alemão. Trabalhando em pedreiras, fabricando armas, munições, peças de aviões e minas, sob um regime de trabalhos forçados que causou centenas de milhares de mortos.

Em janeiro de 1945, estes campos, somados, continham um total aproximado de 190 mil prisioneiros. Em torno de 85 mil sobreviventes. 90 mil morreram.

Mauthausen, ao contrário de outros campos nazistas que recebiam pessoas de todas as classes e categorias. Era destinado apenas a integrantes da Intelligentsia dos países ocupados. Pessoas da alta sociedade e maior grau de educação e cultura. Foi um dos primeiros complexos de campos de concentração da Alemanha Nazista e o último a ser liberado pelos aliados ao fim da guerra.

Extermínio

Até o ano de 1942, Mauthausen foi usado para prisão e assassinatos dos inimigos políticos e ideológicos da Alemanha Nazista, reais ou imaginários. Este extermínio se dava, inicialmente através de trabalhos forçados.

Quando os prisioneiros regressavam às barracas e alojamentos, após 12 horas de trabalho exaustivo nas pedreiras, sem condições físicas de continuar a servir às expectativas, por exaustão completa ou doença, eram mortos com injeções intravenosas de veneno, nas enfermarias e cremados. Milhares deles morreram por exaustão nas pedreiras e fábricas.

A princípio, o campo não contava com câmaras de gás e prisioneiros sem condições de trabalho eram transferidos parra outros campos de execução. Á partir de 1941, uma câmara de gás, com capacidade para 120 pessoas foram instaladas.

Libertação

Em 05 de Maio de 1945, Mauthausen foi o último complexo a ser liberado pelas tropas americanas do 3º exército dos Estados Unidos.

Entre os sobreviventes estavam o tenente americano Jack Taylor e o engenheiro Simon Wiesenthal, que dedicou o resto de sua vida a caçar criminosos de guerra nazista.

Em 1975, o chanceler Bruno Kreisky abriu no local o Museu Mauthausen. A área antes ocupada pelos sub-campos do complexo, hoje é coberta de edificações residenciais construídas no pós-guerra.

– Filme espanhol, produção de 2017. Disponível na NetFlix

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