No mundo há 40,3 milhões de escravos. As vítimas, em sua maioria, estão na África e na Ásia. No Brasil há em torno de 370 mil escravos.


O filme ‘Os 7 prisioneiros’, conduzido por Rodrigo Santoro e Cristian Malheiros, é um filme complexo, embora o cenário seja pobre. Se passa em São Paulo e nos coloca em uma posição desconfortável, enquanto telespectador quando temos que julgar as atitudes de Matheus, interpretado por Cristian.

O diretor do filme é Alexandre Moratto, a roteirista é Thayná Mantesso e o produtor Fernando Meirelles

Eu assisti ao filme de forma despretensiosa. Algo como ‘para descansar’, mas me causou grande impacto quando percebi a profundidade dos personagens e a complexidade das situações apresentadas.

Lucas, personagem de Santoro, um homem branco, que veio de uma classe social baixa, compra meninos de áreas pobres e estrangeiros, como venezuelanos, chineses, bolivianos, coreanos e haitianos, para sustentar uma rede de lavagem de dinheiro e tráfico humano.


O que chama atenção é que, em um determinado momento do filme, Lucas se encontra com um político, na companhia de Mateus e esse político – um personagem secundário e inóspito -, revela que Lucas foi um escravo dele e que inclusive o chamava assoviando, demonstrando todo o desprezo pelo ser humano. O ciclo se repete. Hoje o Lucas é o feitor de escravos.

Aqui faço um adendo: Políticos e poderosos são tão superprotegidos e acima da lei que até em um filme, que tem em sua essência a denúncia, eles são tratados como personagens secundários, que não causam danos, com filhos e familiares. Humanizados e superprotegidos.

O filme foca mais no tráfico humano do que no envolvimento de políticos e na lavagem de dinheiro, já que tudo, absolutamente tudo é pago em dinheiro vivo.

Um dos pontos que nos faz refletir são os níveis de escravidão vividos por Matheus. A primeira escravidão é a mental e a segunda é a física. O menino que queria ser engenheiro e enfrenta Lucas no começo para livrar os amigos dessa situação, se torna o algoz com uma pitada de humanidade, quando leva lanches e refrigerantes a noite para eles.

Um menino que, nos primeiros minutos de filme se mostra preocupado, combativo e até carinhoso, quando passa a madrugada cuidando de um dos meninos que foi gravemente ferido, que faz planos para tirar todos daquele local, acaba se tornando um feitor de escravos tal como seu algoz.

Essa mudança de Mateus nos leva a imaginar como um ser humano que está passando pela mesma situação se alia ao seu opressor, assim como os escravos tinham escravos. O oprimido vira opressor e o opressor é superprotegido pelo oprimido.

O filme, mesmo com um cenário fechado – um ferro velho – não se deixou levar pela mesmice e te desperta sentimentos conflituosos até pela frieza que o tema é tratado. Um misto de frieza e seriedade.

Meninos cheios de sonhos e esperanças presos em um ferro velho, sem direito a sair, muitas vezes sem direito ao banho como forma de castigo e sem uma alimentação adequada, quando lhes foi prometido trabalhos dignos para que pudessem sustentar suas famílias. Assim segue com os bolivianos, presos em um quarto de confecção e, quando Mateus tem que optar por três estrangeiros para servirem no ferro velho. É um sistema extremamente desumano e lucrativo.

O espectador é colocado diante de uma violência necessária para que consiga refletir acerca do tráfico humano e como isso pode estar acontecendo na casa ao lado… No comércio ao lado.

O tempo todo percebe-se que Lucas está desconfortável com a situação e vive um dilema moral, assim como Matheus, mas ambos se entregam ao sistema e mantem a relação de domínio e submissão.

Uma das cenas que causa expectativa é quando os agentes do Ministério do Trabalho vão até o ferro velho e Mateus tem a oportunidade de contar tudo o que se passa, mas prefere acobertar Lucas inclusive quando criticado pelos colchões que os meninos dormem que estão deploráveis. Ele poderia ter acabado com todo o esquema naquele momento. Mas preferiu se calar.

Mateus tentou uma estratégia para pagar a dívida que Lucas disse que os meninos tinham com ele, como moradia, o pagamento pela mão de obra escrava deles, transporte e alimentação. Prometeu dobrar a meta com a expectativa de zerar a dívida em 06 meses e libertar a si e seus amigos, mas, em um ponto crítico do filme, Mateus, seja por estratégia, seja por conveniência (ai cabe o julgamento pessoal), se alia a Lucas, ajudando, inclusive agredir seus amigos que tentam fugir e colocando os familiares dos escravos em situação de vulnerabilidade, quando manda os comparsas de Lucas baterem na mãe de um dos meninos que tentou correr do ferro velho.

Após a agressão, os algozes enviam as fotos da senhora toda machucada a Mateus que estava cozinhando para os amigos. É um momento confuso e dubio.

O ponto chave do filme é quando Lucas olha friamente para Mateus, que tenta defender os amigos, e diz: “É nós ou eles”. Neste ponto de inflexão, Mateus tem que fazer uma difícil escolha e, vocês vão ter que assistir o filme para saber o final.

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